quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

A CABRA E O CAVALO



Nuno Melo é um deputado europeu “light” e “q.b.” que, se excetuarmos a sua intervenção na comissão parlamentar do BPN, se tem especializado na pequena política televisiva, na exploração do pequeno byte nas redes sociais e não só, obtendo por essa via efémeros momentos de pretensa glória, que o devem realizar, e cada qual realiza-se com o que estiver mais à mão.
O seu aproveitamento do byte despreocupado mas impreparado de António Costa com investidores e autoridades chineses e o discurso preparado na Antena 1 em torno do significado dos anos da cabra e do cavalo na cultura chinesa vem nessa sequência.
Só o refiro aqui por dois motivos.
Primeiro, porque intuo que a próxima campanha eleitoral vai estar cheia até à náusea destes números e piruetas de circunstância, tudo fazendo a maioria para encontrar ecos do seu discurso onírico sobre a transformação do país. Pelo sim pelo não vou tomar alguns protetores estomacais, porque receio náuseas profundas com o que se perfila no horizonte eleitoral.
Segundo, porque na perspetiva dos interesses de António Costa não sou dos que desvalorizam este tipo de situações, mesmo aderindo à semântica preciosista de que estar diferente ou estar melhor não é de facto a mesma coisa. Podem dizer-me que a diplomacia económica é das mais cínicas e hipócritas que se vendem por aí e até posso concordar com isso, a fazer fé no que vai sendo visto por esse mundo fora. Mas a alternativa de António Costa não pode menosprezar um discurso para essa realidade. Claro que não lembraria ao diabo e seguir por exemplo o pensamento de Félix Ribeiro e defender que na geoestratégia da globalização não interessa a Portugal ficar reduzido a uma feitoria da China. Mas já que os chineses estão cá (e não vou discutir as contrapartidas e quem as terá auferido de os ter por cá) parece fundamental começar a fazer o discurso de que o capital estrangeiro deve ser uma parte da solução de transformar o padrão estrutural da economia portuguesa e não tornar-se um problema, afunilando essa transformação. Essa posição de país não ofende ninguém, embora os investidores estrangeiros possam contrapor que então preparem melhor as vossas privatizações. O que seria uma boa réplica, mas aí Costa poderá sempre dizer que os malandros que me antecederam, com a cumplicidade da Troika, deram-se ao luxo de privatizar sem lei estratégica com escrutínio parlamentar.

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