A trajetória de colisão, controlada ou mesmo
trágica, em que a Grécia e a Alemanha se encontram capturadas e com elas todo o
edifício do Euro e da própria União Europeia, tem sido uma verdadeira caixinha
de surpresas em matéria de informação, captada mais por elementos do
inteligente jornalismo económico internacional e menos por economistas
académicos ou influentes no “international business”.
Ferdinando Giugliano é um desses exemplos de
jornalismo inteligente, atento e provocador das ideias.
A peça hoje publicada pelo Financial Times alinha
por essa orientação e assinala a publicação pelo Eurostat – União Europeia de
uma tipologia de informação financeira que ainda não fora sistematizada.
A nova informação respeita às chamadas “contingencial liabilities”
(responsabilidades ou passivos contingenciais), isto é, compromissos que o
setor público não é formalmente obrigado a pagar, mas que pode ter de honrar
num futuro qualquer. Entre tais compromissos, contam-se responsabilidades para
com o setor privado, por exemplo garantias a bancos e o que conhecemos bem
encargos futuros com parcerias público-privadas. Dispenso-me de salientar o que
a publicação desta informação representa em termos de transparência da ação
pública e da sua accountability, temas caros e fundadores deste blogue.
Pois, Giugliano provoca o leitor sublinhando
neste outro conceito de dívida, os tais passivos contingenciais, a posição
inversa que a Alemanha e a Grécia apresentam. Não é que neste novo
escalonamento (também em percentagem do PIB como o peso da dívida, a Alemanha
está no topo e a Grécia na base? É verdade por mais surpreendente que isso
possa parecer, não tanto como isso dada a forte correlação com a própria
dimensão do país.
Calculando um indicador de peso da dívida alargado,
somando a dívida pública formal mais os passivos contingenciais, a hierarquia
ainda é provocadora, com a Irlanda agora em primeiro, a Alemanha em segundo e
Portugal sempre acima da sua “beloved” Grécia.
Segundo informação fornecida pelo próprio Giugliano,
os passivos contingenciais alemães estarão localizados em entidades exteriores
ao Governo e que o instituto estatístico alemão atribui essencialmente a
responsabilidades dos bancos públicos. Significa isto que os novos dados do
Eurostat integram os depósitos de alemães na banca de controlo público,
engrossando passivos. Mas ao não fornecer informação sobre os ativos que
cobrirão tais passivos, o novo indicador
acaba por não ilustrar a boa ou degradada saúde da banca alemã de controlo
público.
Mas Giugiano não desarma referindo que a
informação Eurostat permite isolar compromissos fora dos balanços em matéria de
garantias e compromissos com as PPP. Neste novo critério as percentagens do PIB
descem para dois dígitos, com a Áustria e a Irlanda à cabeça, com Portugal
abaixo da Alemanha mas ainda acima da Grécia.
Em favor da transparência e da accountability e
sobretudo do desincentivo à maquilhagem das contas públicas. A informação
cidadã em democracia ainda tem um longo e penoso curso à sua frente.
O que eu chamo bom jornalismo económico!
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