quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

E ESTA HEM!



A trajetória de colisão, controlada ou mesmo trágica, em que a Grécia e a Alemanha se encontram capturadas e com elas todo o edifício do Euro e da própria União Europeia, tem sido uma verdadeira caixinha de surpresas em matéria de informação, captada mais por elementos do inteligente jornalismo económico internacional e menos por economistas académicos ou influentes no “international business”.
Ferdinando Giugliano é um desses exemplos de jornalismo inteligente, atento e provocador das ideias.
A peça hoje publicada pelo Financial Times alinha por essa orientação e assinala a publicação pelo Eurostat – União Europeia de uma tipologia de informação financeira que ainda não fora sistematizada.
A nova informação respeita às chamadas “contingencial liabilities” (responsabilidades ou passivos contingenciais), isto é, compromissos que o setor público não é formalmente obrigado a pagar, mas que pode ter de honrar num futuro qualquer. Entre tais compromissos, contam-se responsabilidades para com o setor privado, por exemplo garantias a bancos e o que conhecemos bem encargos futuros com parcerias público-privadas. Dispenso-me de salientar o que a publicação desta informação representa em termos de transparência da ação pública e da sua accountability, temas caros e fundadores deste blogue.
Pois, Giugliano provoca o leitor sublinhando neste outro conceito de dívida, os tais passivos contingenciais, a posição inversa que a Alemanha e a Grécia apresentam. Não é que neste novo escalonamento (também em percentagem do PIB como o peso da dívida, a Alemanha está no topo e a Grécia na base? É verdade por mais surpreendente que isso possa parecer, não tanto como isso dada a forte correlação com a própria dimensão do país.
Calculando um indicador de peso da dívida alargado, somando a dívida pública formal mais os passivos contingenciais, a hierarquia ainda é provocadora, com a Irlanda agora em primeiro, a Alemanha em segundo e Portugal sempre acima da sua “beloved” Grécia.

Segundo informação fornecida pelo próprio Giugliano, os passivos contingenciais alemães estarão localizados em entidades exteriores ao Governo e que o instituto estatístico alemão atribui essencialmente a responsabilidades dos bancos públicos. Significa isto que os novos dados do Eurostat integram os depósitos de alemães na banca de controlo público, engrossando passivos. Mas ao não fornecer informação sobre os ativos que cobrirão tais passivos, o novo  indicador acaba por não ilustrar a boa ou degradada saúde da banca alemã de controlo público.
Mas Giugiano não desarma referindo que a informação Eurostat permite isolar compromissos fora dos balanços em matéria de garantias e compromissos com as PPP. Neste novo critério as percentagens do PIB descem para dois dígitos, com a Áustria e a Irlanda à cabeça, com Portugal abaixo da Alemanha mas ainda acima da Grécia. 

Em favor da transparência e da accountability e sobretudo do desincentivo à maquilhagem das contas públicas. A informação cidadã em democracia ainda tem um longo e penoso curso à sua frente.
O que eu chamo bom jornalismo económico!

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