quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

O RIGOR CONTRA A IDEOLOGIA DESAVERGONHADA

(Grécia)


Há duas maneiras de lidar com os Pedros Sampaio Nunes deste mundo, que vêm nos programas de ajustamento do sul da Europa uma espécie de resgate das mil maravilhas. Ripostar ao jeito de “quem se mete com o PS leva!” (oh! que saudades do Jorge Coelho dos velhos tempos) ou então através do rigor macroeconómico depositar tais personalidades no caixote do lixo da história, desmontando a sua desajeitada ideologia.
Simon Wren-Lewis (Mainly Macro, University of Oxford) é dos economistas que mais tem contribuído para a segunda destas modalidades. Wren-Lewis oferece um quadro sereno de denúncia dos erros praticados pelos programas de ajustamento, utilizando o argumento de que as autoridades representadas na Troika, especialmente afoitas para dar curso à via punitiva dos países indisciplinados (o governo da Nova Democracia de Samaras teria tido tomates para suspender a liga grega na sequência dos desacatos do Panatinaikos – Olimpiakos?), assumiram um ajustamento fiscal demasiado rápido, com consequências desastrosas.
Para denunciar essa desastrosa rapidez, Wren-Lewis (aqui e aqui) usa informação da OCDE e cruza três variáveis que fazem parte do léxico macro atual daquela instituição: (i) o chamado “underlying primary balance” (excedente orçamental primário subjacente) que mede a diferença entre as receitas fiscais cobradas e a despesa pública sem juros da dívida que se observaria se o produto real da economia correspondesse ao seu produto máximo potencial; (ii) o output gap (em %) que mede a diferença entre o produto real da economia e o seu produto potencial máximo e (iii) a taxa de crescimento económico (crescimento do PIB).
A tabela acima descreve o comportamento dessas variáveis para o período 2009-2014.
É fácil observar a brutalidade e rapidez com que o ajustamento fiscal foi atacado. Os valores de 2009 correspondem no modelo de análise de Wren-Lewis ao período de máximo descontrolo da despesa pública, graças ao qual a economia grega mantinha um excedente orçamental primário subjacente bastante negativo e um artificialmente positivo output gap. A brutalidade do ajustamento consuma-se em quatro anos, à custa claro está de uma perda significativa de produto e de um produto real da economia que chegou em 2013 a 15% do produto potencial da economia grega, provavelmente subavaliado dada a enormíssima taxa de desemprego.
Tese de Wren-Lewis: qualquer ajustamento mais lento é mais eficiente do que o “peru frio” (cold turkey) do ajustamento não olha a danos. 
Não, não é um ajustamento espetacular e laboratorialmente portador de futuro. É um erro flagrante das autoridades da Troika, não sei se individualmente consideradas ou se o produto do "mata e esfola" para agradar aos seus amos e senhores. É um erro e não é um laciao qualquer divulgador da vulgata que o pode ocultar, sobretudo contra o rigor macroeconómico.


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