domingo, 22 de fevereiro de 2015

CRISE E DESIGUALDADE: MAIS ELEMENTOS



A economia americana e a robustez do sistema estatístico que permite medir a evolução da desigualdade na distribuição do rendimento continuam a oferecer vasta informação a um dos temas centrais do debate económico em torno dos efeitos da crise (Grande Recessão de 2007-2008), dando pistas para uma análise comparativa da experiência americana com a europeia nesta mesma matéria.
Quando a robustez da informação se adiciona ao poder de análise de Branco Milanovic, um dos grandes estudiosos da distribuição do rendimento, principalmente da distribuição do rendimento à escala mundial, temos seguramente matéria de relevo.
O gráfico que abre este post fornece uma das mais explícitas formas de análise da distribuição do rendimento na economia americana, que consiste em medir como variou o rendimento real disponível dos diferentes grupos de população, dos grupos mais pobres situados à esquerda do eixo aos mais grupos situados à direita desse mesmo eixo. A vantagem da representação é assegurar essa medida para dois períodos, o de 2007-2010 (o mais intenso da crise) e o de 2013-2013 (o da recuperação relativamente anémica da economia americana).
O comportamento da curva de 2007-2010, como assinala Milanovic, é bastante explícito, confirmando que os extremos (os mais pobres e os mais ricos) foram os mais atingidos. Aqui a perplexidade está na incapacidade do sistema social americano de proteger os mais pobres, já que em crises financeiras do tipo da de 2007-2008 o impacto negativo nos mais ricos é por demais conhecido.
Já o comportamento da curva de 2010-2013 mostra que o governo Obama conseguiu fazer com que os grupos mais pobres recuperassem pelo menos parcialmente a perda sofrida. Os grupos mais ricos depressa recuperaram da perda sofrida e, embora os dados correspondentes ao 1% mais ricos sejam provisórios, o comportamento da curva é esclarecedor.
O que se torna visível pelo confronto das duas curvas é que o grande miolo da sociedade americana, uma espécie de classe média muito alargada, estava em 2013 pior do que estava no início da crise. E esse parecer ser o maior dano da convulsão observada.

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