A economia americana e a robustez do sistema
estatístico que permite medir a evolução da desigualdade na distribuição do
rendimento continuam a oferecer vasta informação a um dos temas centrais do
debate económico em torno dos efeitos da crise (Grande Recessão de 2007-2008),
dando pistas para uma análise comparativa da experiência americana com a
europeia nesta mesma matéria.
Quando a robustez da informação se adiciona ao
poder de análise de Branco Milanovic, um dos grandes estudiosos da distribuição
do rendimento, principalmente da distribuição do rendimento à escala mundial, temos
seguramente matéria de relevo.
O gráfico que abre este post fornece uma das mais explícitas formas de análise da
distribuição do rendimento na economia americana, que consiste em medir como
variou o rendimento real disponível dos diferentes grupos de população, dos
grupos mais pobres situados à esquerda do eixo aos mais grupos situados à
direita desse mesmo eixo. A vantagem da representação é assegurar essa medida
para dois períodos, o de 2007-2010 (o mais intenso da crise) e o de 2013-2013
(o da recuperação relativamente anémica da economia americana).
O comportamento da curva de 2007-2010, como
assinala Milanovic, é bastante explícito, confirmando que os extremos (os mais
pobres e os mais ricos) foram os mais atingidos. Aqui a perplexidade está na
incapacidade do sistema social americano de proteger os mais pobres, já que em
crises financeiras do tipo da de 2007-2008 o impacto negativo nos mais ricos é
por demais conhecido.
Já o comportamento da curva de 2010-2013 mostra
que o governo Obama conseguiu fazer com que os grupos mais pobres recuperassem
pelo menos parcialmente a perda sofrida. Os grupos mais ricos depressa recuperaram
da perda sofrida e, embora os dados correspondentes ao 1% mais ricos sejam
provisórios, o comportamento da curva é esclarecedor.
O que se torna visível pelo confronto das duas
curvas é que o grande miolo da sociedade americana, uma espécie de classe média
muito alargada, estava em 2013 pior do que estava no início da crise. E esse
parecer ser o maior dano da convulsão observada.
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