Cruzo-me com duas notícias, uma do DN, outra do
Jornal i, ambos on line, ambas com a mesma origem em dados do INE sobre o comércio
externo português.
No DN, deparamos com:
Pelo contrário, no Jornal i, a coisa é
apresentada como:
O DN, pelo contrário, foca-se na comparação
global de 2014 e 2013 e conclui pela deterioração do défice comercial externo,
com as exportações de bens e serviços a crescerem menos do que as importações. Nesta
perspetiva de leitura, deve sobretudo ser sublinhado que as exportações
aumentaram sobretudo para o destino União Europeia, tendo diminuído 0,1% para o
exterior desse espaço.
Significa isto que, em relação a 2013, a
desvalorização interna a que a economia portuguesa foi rudemente sujeita parece
não ter sido suficiente para melhorar o comportamento relativo das exportações.
O debate central das ideias económicas em torno deste registo será o seguinte:
os austeritários dirão que o ajustamento da desvalorização nominal foi insuficiente;
os antiausteritários dirão que a relação entre a competitividade das exportações
e a desvalorização interna imposta não é linear, que em economias que são “price-takers” no comércio mundial há
outros fatores a invocar para a competitividade e que é antes de uma mudança
estrutural do perfil estrutural das exportações que é necessário promover
(qualificação e produtividade) e que isso leva tempo e não poder ser conduzido
sob regressão social. Dirão ainda os últimos que a União Europeia comprimindo
saldos orçamentais primários não está a impulsionar as exportações dos países
em ajustamento. Anotarão ainda que a diminuição das exportações nos mercados
extra-União Europeia refletirá muito provavelmente o esgotamento da capacidade
produtiva instalada que foi utilizada para responder às oportunidades de
mercado em economias como Angola. E ainda dirão que sem relançamento do
investimento privado, a mudança estrutural do perfil das exportações estará
sempre ameaçada.
A minha posição alinha com a segunda das explicações.
A economia portuguesa está no limiar do grande
acerto de contas. Começando a crescer mais sustentadamente, as importações
começarão virtuosamente a crescer, com foco nos equipamentos que ainda não
produzimos, ou aumentarão sem virtude, refletindo antes que a mudança
estrutural não passou ainda dos sinais que gostaríamos de ver ampliados?
O discurso de pacotilha do governo, ofuscado pela
procura desesperada de sinais que minimizem a consciência do ajustamento, anda à
margem desta discussão.
Uma curiosidade reveladora: ambos os jornais
escolhem uma imagem de infraestrutura portuária para ilustrar os números. O que
não deixa de revelar um enorme preconceito para com a dimensão imaterial e de
serviços das exportações nacionais.
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