(Nos meus tempos de miúdo, quando passava o fim do Ano seja na minha casa em S. Mamede de Infesta, seja na casa dos meus avós paternos em Matosinhos, mesmo em frente ao que se chamava a Casa dos Pescadores, não muito distante da igreja matriz, recordo-me de uns ruídos estranhos que vinham da rua, que tudo indicava seriam pratos que se partiam ou se chocavam. Em alguns anos, a esse ruído juntavam-se alguns sons de foguetes, sirenes ou roncos de navios que estariam pelo Porto de Leixões a comemorar à sua maneira a passagem do ano. Diziam-me então que era a tradição de deitar fora o ano (dai o bota fora), que na verdade nunca entendi lá muito bem, pois nem sempre o ano que sai foi incómodo ou infeliz. Mas o ato ruidoso também podia ser interpretado como exemplo de franco otimismo no ano que vai entrar e daí a necessidade de despachar o velho. À hora a que escrevo, ainda longe das badaladas, sou surpreendido por uns sons estranhos que tanto podem ser de tiros para o ar, ou de pequenos artefactos que estoiram, vindos do bairro social que avisto do meu escritório e repouso de trabalho. Talvez este ano seja para muita gente motivo para exteriorizar de modo expressivo o “deitar fora”, mas também pode ser simplesmente uma embriaguez precoce face à distância que nos separa das badaladas.
Encontrei na newsletter do New York Times dirigida aos assinantes digitais uma peça deliciosa assinada pela jornalista Melissa Kirsch sobre a tradição de enviar ou de redigir desejos para o próximo ano, podendo variar o mecanismo para os entregar ao destinatário. Uma via é na própria reunião familiar ou com amigos de fim de ano convidar cada um a redigir um desejo e partilhá-lo com um sorteio.
Para me ajudar a compor este post como mensagem de Feliz 2023 a todos os que, com insónias ou sem elas, se dão à maçada de frequentarem este espaço, retive este desejo emitido por um podcast que desconheço e que reza assim:
“Ten Percent Happier” podcast: Stop and recognize happy moments when you’re in the middle of them. Literally stop and say out loud, “This is a happy time.” It’s a way to ground yourself in the joyful parts of your life. We do this with moments of trauma and crisis all the time.
Em tradução mais ou menos livre:
“Podcast 10% mais feliz: Pare e reconheça os momentos felizes quando está no meio dos mesmos. Pare literalmente e diga em voz alta: “É um tempo feliz”. É uma maneira de se apoiar nas partes mais alegres da sua vida. Devemos fazer isto permanentemente nos momentos de trauma e de crise.”
E com esta mensagem simples desejo a todos um Feliz 2023 e para o meu colega de blogue o desejo que partilhe com alegria o momento esperançoso para os brasileiros que acontecerá com a tomada de posse de Lula. Os brasileiros bem merecem que desta vez a coisa corra melhor.