segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

BALANCETE

(Hamzeh Hajjaj, https://cartoonmovement.com) 

O Mundial já está a entrar na sua reta final. E se é certo que ainda se espera que venha a ter muito que contar, não o é menos que não faltam aspetos interessantes/curiosos a registar provenientes da sua primeira fase, a dos grupos, em que os países apurados resultaram razoavelmente bem distribuídos em termos continentais (à exceção da metade que coube à Europa, onde, de facto, ainda reside uma significativa supremacia do futebol): dois sul-americanos (as únicas verdadeiras potências não europeias, Brasil e Argentina), dois asiáticos, dois africanos, um norte-americano e um da Oceânia. Uma meia-dúzia de boas surpresas, que os Oitavos se estão entretanto a encarregar de ir retirando de cena, a saber: Japão (que bateu Alemanha e Espanha) e Coreia, Marrocos (que ajudou a arrumar a Bélgica) e Senegal, EUA e Austrália (que se impôs à Dinamarca).

 

Selecionei três de entre vários desses possíveis apontamentos: (i) a efetividade histórica de uma primeira equipa de arbitragem feminina (liderada pela francesa Stéphanie Frappart) num campeonato do mundo (apitando, concretamente, o Costa Rica-Alemanha); (ii) os dois golos do nosso velho conhecido Vincent Aboubakar (agora a jogar na Arábia Saudita, após diversas boas épocas no FC Porto), o primeiro de excelentíssima execução e salvador de um ponto para os Camarões na partida contra a Sérvia e o segundo, igualmente de belo efeito e cujo festejo lhe valeu um amigável segundo amarelo e consequente vermelho, ao cair do pano do encontro em que a sua seleção bateu surpreendentemente a do Brasil (embora sem consequências práticas em termos de apuramento devido ao facto de os suíços terem também vencido e conseguido, portanto, manter o segundo lugar do grupo); (iii) o golo que deu a vitória do Japão contra a Espanha, com a bola a parecer claramente sair à vista desarmada (e eu que até confiava largamente no meu experiente golpe de vista!) e o VAR a garantir a sua validação por 6,79 milímetros (o tamanho médio de um grão de arroz, como explica a excelente infografia do “El Mundo”, construída a partir de um estudo matemático de Santiago García Cremades baseado nas imagens da jogada ― com a vista de cima a ser a decisiva ―, nas medidas da bola e na grossura da linha de fundo do campo, permitindo assim concluir que “as câmaras podem oferecer imagens enganosas” visto que uns 3% da superfície da bola tocam naquela linha no momento exato do centro do jogador japonês). 

(cartoon de Agustin Sciammarella, http://elpais.com)


(a partir de https://www.elmundo.es

Novos balanços serão equacionáveis na atual segunda fase a eliminar (que já vai a meio dos Oitavos e que vai conhecer em breve um escaldante França-Inglaterra, abaixo simultaneamente abordado por Momani em termos de uma nova grande batalha e dos seus principais símbolos em campo, Mbappé e Kane), designadamente quanto às grandes figuras do campeonato, quer as concretizadoras quer as defensoras e sem esquecer as que fazem mexer com mais desenvoltura a máquina no relvado, mas esses terão ainda de aguardar pelas próximas duas semanas. Em relação ao vencedor final, vaticinam os simuladores das casas de apostas que, talvez depois de um Brasil-Argentina e de um França-Espanha (que também poderá ser um Inglaterra-Portugal ou outra qualquer combinação destes quatro, sem que eu descartasse desde já o potencial associado à consistência que Marrocos tem evidenciado) nas meias-finais, a vitória mais admitida (23% de probabilidades) sorriria aos nossos irmãos brasileiros; o que também pode muito bem significar que tudo acabe por sair às avessas, a exemplo do que crescentemente acontece com as falhas das sondagens eleitorais...


(cartoons de Omar Momani, https://omarmomani.blogspot.com)

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