(Sim, se não bastassem já todas as trapalhadas, faltas de ética política e a evidência de que o recrutamento de quadros para a governação constitui hoje um exercício que pode atingir as dimensões mais rocambolescas, a novela “TAP, NAV, Secretária de Estado do Tesouro, Fernando Medina-Pedro Nuno Santos a apanhar bonés” transforma a passagem de ano num ambiente quase irrespirável. A TAP de todas as enxaquecas provocadas ao primeiro-Ministro, ou por ele autoinfligidas, está aí de novo como pano de fundo revelador do erro histórico que a nacionalização representou, por mais que isso incomode os grandes adeptos das teses do grande HUB, da companhia de bandeira e de outras loucuras a que a corte da Capital se entregou.
Para qualquer um que está fora do círculo da capital, o nome de Alexandra Reis não lhe diz nada. Admito que aquelas sobrancelhas carregadas e tão pouco comuns e a postura que tem revelado nos seus aparecimentos públicos representem uma mulher determinada e provavelmente muito competente. Mas o imbróglio em que a meteram ou se deixou meter é de tal maneira estranho que duvido que a Senhora tenha a mínima capacidade para exercer livre e sossegadamente a sua função de guardiã do Tesouro. A ponto de, em meu entender, a única possibilidade objetiva de resolver o problema é ser afastada e partir para uma nova escolha, já agora minuciosa e avaliando se não haverá por aí a pairar qualquer outro rabo de palha do tipo “despeço-te agora, contrato-te depois e depois vê-se”.
Entretanto, a Madame francesa escolhida para CEO da TAP já deve ter percebido que isto do transporte aéreo em Portugal tem que se lhe diga, que exige competências desconhecidas para o mais competente dos CEO e que provavelmente teria sido mais avisado estar a descansar na Côte d’Azur do que aturar esta estranha gente no extremo da Península.
Não menos gozadamente, dois dos putativos sucessores de António Costa, Fernando Medina e Pedro Nuno Santos, aparecem no coração do furacão, já que o “despeço-te agora, contrato-te depois” os envolve e irmana. Fazendo parte da pantomina não acrescentam nada de positivo às suas pretensões.
Face à interpretação possível dos factos, a recomposição do capital da TAP terá obrigado a uma nova escolha de membros da administração e o que poderá ter estado na origem do imbróglio foi ter sido apresentada como decisão da própria Alexandra Reis, quando terá sido uma rescisão com indemnização solicitada pela TAP. O Negócios escrevia a 5 de fevereiro de 2022: “A TAP escreve que "tendo sido nomeada pelos anteriores acionistas, e na sequência da alteração da estrutura societária da TAP, Alexandra Reis, vogal e membro do Conselho de Administração e Comissão Executiva da TAP, apresentou renúncia ao cargo" nesta sexta-feira”. Como se depreende que terá sido com conhecimento da atual CEO (ou foi antes, já me perdi no tempo …) isso poderá revelar que a Madame aprendeu depressa a fazer de conta à portuguesa, não intuindo que estava a criar um imbróglio dos valentes.
E o mais estranho disto tudo é a sensação perturbadora de que se cavarmos um pouco mais outras estranhas minhocas irão surgir, continuando a inibir que a governação se foque no que é essencial, governar.
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