segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

A MENSAGEM DO HOMEM DO ANO

Tendo a rever-me no imaginativo sentido da crónica de Sónia Sapage, hoje no “Público”, intitulada “Como 2022 vai ficar para a História”. Onde se começa por escrever que “a guerra dizimou a vida política portuguesa, que já vinha quebrada pela pandemia”. Onde se explica que “houve novidades, isso é inegável, mas não houve criação”. E onde se conclui que “um ano destes não merece mais do que umas notas de rodapé na História de Portugal”.

 

Dito isto, haverá também que reconhecer que 2022 foi o ano de António Costa, um protagonista político hábil e que, fruto de circunstâncias excecionais e escassamente meritórias em termos pessoais, venceu eleições com uma inesperada maioria absoluta e assim se tornou um “dono” assumido e nada dedicado a conduzir o País para outros patamares de afirmação e riqueza ― como refere Ângela Silva no seu balanço nacional do ano do “Expresso”, Costa “saltou de uma crise política para uma terceira legislatura e com maioria absoluta”; não sem deixar no ar, porém, a questão que cada vez mais se vai tornando clara em termos de negatividade: “Deixará um país melhor?”.

 

O primeiro-ministro falou ontem ao País, como é tradição pelo Natal. E confirmou o sentido do diagnóstico ao insistir no seu visceral otimismo, quer através do estafado discurso da redução do défice e da dívida ― o que a inflação tanto veio ajudar, fazendo com que chocantemente por estes dias se vão gastar (é o termo!) milhões de euros para preferencialmente se suprirem contas em atraso em vez de se investir num ataque dirigido a passivos estruturais acumulados ― e ao repetir o ainda mais despropositado discurso da colocação de Portugal no “pelotão da frente” (!) com vista a “vencer os desafios do futuro”. Não estou absolutamente certo do grau de consciência que Costa terá em relação ao seu desligamento em relação à realidade concreta e a uma leitura tecnicamente adequada e com ela compatível, mas sempre sublinharei que nada sustenta o simples uso da palavra descontextualizada e sem um verdadeiro conteúdo objetivo ― porque, como diz o ditado e a prática demonstra, “palavras leva-as o vento”...



(Nuno Sampaio, https://expresso.pt)

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