sábado, 17 de dezembro de 2022

PORTUGAL NA EUROPA, AGAIN AND AGAIN!

(Luís Afonso, https://visao.sapo.pt)

(Construção própria a partir de https://ec.europa.eu/eurostat)

 

Não cessam as discussões desencontradas em torno da avaliação do mais recente posicionamento económico português no concerto europeu. Então em matéria de crescimento e seus reflexos no maldito indicador de desenvolvimento que é o produto per capita (de preferência à paridade de poder de compra), os desencontros sucedem-se a ritmo estonteante e os entendimentos mínimos parecem inalcançáveis. Pelo que, e não obstante a objetividade associada aos números disponíveis, temo que tenhamos de continuar a contentar-nos se Deus nos for dando paciência para suportar um tal ruído! Ruído que os nossos responsáveis máximos alimentam sem qualquer preocupação mínima de medida em sede de rigor e demagogia, como ainda esta semana aconteceu com o primeiro-ministro na sua “soberba” entrevista à “Visão” (“Crescemos acima da média europeia todos os anos, desde que sou primeiro-ministro, exceto em 2020. Estamos a aproximar-nos dos países mais desenvolvidos da União Europeia. Sei que, agora, muitos preferem comparar-nos com os menos desenvolvidos. Mas acho que devemos comparar-nos com os mais desenvolvidos!”).

 

De todo o modo, lá me pus novamente a fazer umas contas, desta vez em cima dos dados ainda quentinhos, porque acabados de atualizar e publicar pelo Eurostat, do PIB per capita ajustado à paridade de poder de compra. O quadro acima elucida o essencial do observado neste século XXI com base em três momentos espaçados no tempo. E a dura realidade é mesmo a de um Portugal a ocupar o 15º lugar em 2000, a passar para o 18º em 2010 (ultrapassado por Malta, Eslovénia e Chéquia) e a surgir finalmente colocado em 21º em 2021 (adicionalmente ultrapassado pela Lituânia, Estónia, Polónia e Hungria mas beneficiando da pequena compensação decorrente da queda abrupta da Grécia).

 

Veja-se ainda tal realidade segundo um outro prisma: a economia portuguesa evoluiu nestes vinte e um anos de um nível equivalente a pouco mais de 85% da média europeia para cerca de 83% a meio do percurso e 75% na atualidade (ao invés, e ilustrativamente, o caminho da Polónia vai de 48,4% para 62,7% e para os presentes 77,2% e o da Roménia de 26,6% para 52,6% e para os vigentes 73,8% com que já nos mordem os calcanhares). Em síntese, e dê lá por onde der ou diga o primeiro-ministro o que disser, nenhumas cautelas e caldos de galinha teórico-metodológicas ou estatísticas permitem que seriamente se possa desconsiderar a existência de um problema que temos de enfrentar, o das restrições e inibições que vêm limitando a nossa capacidade de crescimento.


Coisas diversas são as que podem resultar da possível tomada em conta de outros tipos de variáveis mais diversificadas e qualitativas, como sejam aquelas a que esta semana ocasionalmente acedi ao consultar um interessante novo índice apresentado pela Universidade de Cambridge (“The Competitive Sustainability Index”). Não pretendendo elaborar neste curto espaço sobre a matéria, remeto em todo o caso para a observação de um Portugal medianamente colocado (14º, o último dos good performers segundo a terminologia dos autores). Complementarmente, e como o gráfico mais abaixo permite adicionalmente evidenciar, importaria também atentar na desagregação daquele resultado em função do contributo para o mesmo de quatro critérios diferenciados, os quais nos classificam particularmente bem (strong performers e 6º lugar europeu) no domínio ambiental e relativamente menos bem, embora sempre em plano moderado, nas dimensões de governação e estabilidade, sociedade e justiça ou economia e produtividade. Para mais detalhes, será favor que procedam à consulta do original (https://www.cisl.cam.ac.uk/view-competitive-sustainability-index).





Muitas e contraditórias “verdades”? Ou apenas contingências dos relativismos analíticos em que vamos embarcando? Ou ainda, e talvez mais consistentemente, uma espécie de seu-a-seu-dono que se nos impõe quando finalmente compreendemos os riscos que podem provir de uma excessiva valorização do empírico e/ou do mais sintético e atrativamente transmissível. Porque, como é por demais sabido e tão frequentemente esquecido, c’est pas evident ― o mundo é complexo e a apreensão das suas lógicas e determinantes de funcionamento requer esforços que vão para além das narrativas fáceis e da ignorância das vulgatas.

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