(Recompus a minha base de dados a partir dos sítios WEB
mais consistentes sobre a pandemia, John Hopkins University Center e Worldometer, para
me concentrar nos 40 países com maior número de casos confirmados. A União Europeia deixou o estatuto de epicentro disseminador e confronta-se
agora com os “trade-offs” do desconfinamento e abertura, ou seja da eficácia
com que os inevitáveis casos importados vão ser geridos. Portugal poderia
também estar a preparar-se para esse desafio, mas as coisas, sabemo-lo agora,
correram mal na aglomeração de Lisboa em termos de gestão e coordenação
logística e vai ter de gerir os dois processos em simultâneo, o que não é bom
augúrio.
Bradford DeLong, impiedoso como sempre, foca-se na trágica e patética
corrida entre os EUA e o Brasil para disputar o ceptro da mais ruinosa corrida
de má gestão da crise pandémica. Os três gráficos que o economista americano de
Berkeley reúne são eloquentes. Os dois desqualificados populistas (tão amigos e
mutuamente compreensivos que eles eram) vão reciprocamente fechar-se e, para
já, não vão poder entrar em território europeu. Não sei como o Estado português
vai à luz desta decisão tratar a comunidade brasileira mas espero que
compreenda o risco enorme de invocar aqui algum excecionalismo.
A análise da minha base agora atualizada traz-nos novos personagens como os
três gráficos já clássicos evidenciam: taxa de infeção por mil habitantes, taxa
de letalidade por mil habitantes e taxa de letalidade de infetados.
O que ressalta dos meus dados é que, embora o epicentro da pandemia tenha
abandonado o território europeu, a incidência passada deixou marcas bem
visíveis. Em termos dos indicadores clássicos atrás referidos, países como a
Espanha, a Itália, a França e a Bélgica continuam, à custa dos valores passados,
a encimar as listagens de indicadores. Se é assim verdade que as últimas três
semanas se focaram na Suécia e em Portugal, as incidências passadas oferecem-nos
um panorama totalmente diferente. As sequelas nos países mais martirizados não
desapareceram com a mudança do epicentro da pandemia para outras paragens.