segunda-feira, 8 de junho de 2020

E COMO VAMOS DE CORONA? (II)



(A situação vai evoluindo conforme as minhas antecipações. Até aqui o número de casos confirmados continua a evoluir a ritmos de crescimento entre 0,5 e 1%, enquanto que o número de casos suspeitos, apesar da massa de testes, o faz a ritmos mais baixos. E finalmente o número de mortes diárias parece diminuir sustentadamente. Todos estes valores refletem agora fortes diferenças territoriais, com a região de Lisboa a assumir o papel de foco principal, em linha com a dimensão da aglomeração e as fortes concentrações espaciais de emprego com a diversidade associada de deslocações casa-trabalho.)

Do ponto de vista global, a pandemia parece ter esgotado a sua força propulsora na Europa e ter-se deslocado para os EUA e América Latina em busca de lideranças descabeladas e suicidas. Mas ainda não sabemos se a abertura de fronteiras intra-União Europeia e lenta retoma das viagens aéreas irá ou não reacender preocupações. A África parece poder escapar de uma disseminação letal. Confirma-se ainda que os países favorecidos pela geografia e pela intuição política dos seus líderes com confinamento decidido e rápido apresentam êxitos inequívocos. Veja-se o caso da Nova Zelândia (que terá mesmo erradicado nesta fase o vírus com o último docente ativo prestes a ficar totalmente recuperado), da Islândia (pequena população e testagem em massa) e a Grécia. Tal como o referi há dias, o caso do Vietname é de explicação mais exigente, pois estão em causa “capabilities” de organização e resposta testadas há longo tempo. Amigos nossos que visitaram o país em fevereiro davam-me conta ontem de que já nessa altura o controlo de casos pontuais era avassalador e eficaz. Um prodígio de não registo de mortes e de um baixo número de casos (pouco mais de 300) ficará como um caso de estudo para dele tirarmos todas as implicações possíveis.

Cá pelo burgo, vou seguindo as minhas polinomiais cúbicas de estimação e acompanhando os números diários de municípios mais próximos dos meus movimentos e dos meus mais próximos (filhos, netos, empregada), como Vila Nova de Gaia, Porto, Caminha, Matosinhos, Espinho, Lisboa, Faro. As minhas antecipações vão-se cumprindo na generalidade, continuando convicto de que teremos durante os próximos meses a continuidade de baixos ritmos de crescimento de casos e ainda mais baixos de suspeitos.

A capacidade de testagem de casos continua manifestamente alta no plano comparativo mundial, agora utilizada para controlar o surto na aglomeração de Lisboa. Números de 3 de junho, apresentavam Portugal em 4º lugar no meu universo de referência:
 


A taxa de letalidade global parece finalmente começar a descer:

A polinomial cúbica mais curiosa é a do registo de casos confirmados/dia. O grau de ajustamento da curva não é dos mais famosos, refletindo questões óbvias de registo administrativo. Mas transporta consigo uma curiosidade, a da emergência de uma nova fase ascendente, não sabemos se muito prolongada no tempo.



Esta semana teremos um teste decisivo em matéria de resultados de desconfinamento. Uma parte das famílias residentes na aglomeração de Lisboa, particularmente as que têm dinheiro para gastos de viagens e escapadinhas, vai deslocar-se não sabemos ainda em que magnitude, mas estima-se alta, em busca do Algarve ou de turismos rurais e de natureza por esse país fora, com relevo para o Alentejo. A sucessão de feriados nacionais e a não realização das festas de Santo António assim o favorecem. Será muito relevante acompanhar essa migração temporária, admitindo que só gente saudável o fará, mas a presença de assintomáticos não testados será sempre uma possibilidade. Os números dirão se esta fase do desconfinamento não nos prega uma partida antes da abertura de fronteiras a 1 de julho.

Mas talvez a informação mais relevante no plano comparativo seja a reunida por Kiko Llaneras no El País comparando letalidade COVID-19 com a letalidade média de períodos anteriores. É o gráfico que abre este post que dá conta desses números. Também aí a posição portuguesa não apresenta números muito preocupantes, com 9% de excesso de mortes, ainda assim acima dos bem-sucedidos escandinavos que mandaram às malvas as orientações e palpites do virologista sueco obcecado com a imunidade de grupo.




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