sexta-feira, 12 de junho de 2020

DANI RODRIK



(O economista nascido em Istambul e radicado nos EUA, na Harvard University, foi esta semana galardoado com o Prémio Princesa de Astúrias para as Ciências Sociais 2020. Este blogue regozija-se com o reconhecimento público atribuído à obra de Rodrik, para o qual existem várias dimensões que o fundamentam. Sublinho particularmente os seus contributos para uma reforma da globalização, bem antes que as sementes do populismo ocuparam o espaço mediático e de rua de combate à globalização)

Dani Rodrik passa a integrar um grupo valioso de laureados com o Princesa de Astúrias, bastando mencionar os nomes de Paul Krugman, Saskia Sassen, Ester Duflo e Martha C. Nussbaum (de que ando a ler um livro fabuloso, do qual falarei proximamente, The Monarchy of Fear) para compreender de que painel de excelência se trata.

Rodrik é um exemplo notável de crítica por dentro ao mainstream da economia. Não é por isso um autor querido dos mais radicais, mas em meu entender é responsável por uma das mais inteligentes críticas da economia que se afasta das pessoas e da realidade. Tem dedicado à globalização e especialmente ao que ela significa para as economias em desenvolvimento que em torno dela constroem estratégias de redução da pobreza e de melhoria dos níveis de bem-estar material da população. O seu não radicalismo leva-o a defender um conceito de modelo económico muito mais instrumental do que a generalidade dos economistas com produção mais formalizada. Os modelos são meras ferramentas e, como qualquer outro artífice que combina ferramentas de natureza diversa para atingir os seus objetivos, também os economistas os podem e devem combinar em função do que pretendem explicar e compreender.

Mas na matéria em que Rodrik esteve à frente do seu tempo foi na visão crítica da globalização que construiu, gerando a partir dessa visão crítica uma perspetiva reformista da globalização, base crucial para um novo Bretton Woods, sem Keynes, que a economia mundial precisa com urgência. Rodrik falou antes do tempo do populismo, fenómeno que ocupou o lugar da crítica da globalização, perante uma social-democracia incapaz de perceber a relevância do reformismo global da economia mundial. Tal como repetidas vezes aqui o assinalámos, Rodrik demonstrou a total impossibilidade de conseguir aprofundar a integração económica global, respeitar o Estado- Nação e garantir no plano mundial a barganha sindical justa e necessária, o seu chamado TRILEMA DA GLOBALIZAÇÃO.

Por vezes, há economistas que não são ouvidos no tempo certo e a história perde com isso. Regra geral, algures no tempo, um prémio qualquer procura recuperar essa injustiça. Assim aconteceu com o Princesa de Astúrias.

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