(O economista nascido em Istambul e radicado nos EUA, na
Harvard University, foi esta semana galardoado com o Prémio Princesa de
Astúrias para as Ciências Sociais 2020. Este blogue regozija-se com o reconhecimento público atribuído à obra de
Rodrik, para o qual existem várias dimensões que o fundamentam. Sublinho
particularmente os seus contributos para uma reforma da globalização, bem antes
que as sementes do populismo ocuparam o espaço mediático e de rua de combate à
globalização)
Dani Rodrik passa a integrar um grupo valioso de laureados com o Princesa
de Astúrias, bastando mencionar os nomes de Paul Krugman, Saskia Sassen, Ester
Duflo e Martha C. Nussbaum (de que ando a ler um livro fabuloso, do qual falarei
proximamente, The Monarchy of Fear)
para compreender de que painel de excelência se trata.
Rodrik é um exemplo notável de crítica por dentro ao mainstream da economia.
Não é por isso um autor querido dos mais radicais, mas em meu entender é
responsável por uma das mais inteligentes críticas da economia que se afasta
das pessoas e da realidade. Tem dedicado à globalização e especialmente ao que
ela significa para as economias em desenvolvimento que em torno dela constroem
estratégias de redução da pobreza e de melhoria dos níveis de bem-estar
material da população. O seu não radicalismo leva-o a defender um conceito de
modelo económico muito mais instrumental do que a generalidade dos economistas com
produção mais formalizada. Os modelos são meras ferramentas e, como qualquer
outro artífice que combina ferramentas de natureza diversa para atingir os seus
objetivos, também os economistas os podem e devem combinar em função do que
pretendem explicar e compreender.
Mas na matéria em que Rodrik esteve à frente do seu tempo foi na visão
crítica da globalização que construiu, gerando a partir dessa visão crítica uma
perspetiva reformista da globalização, base crucial para um novo Bretton Woods,
sem Keynes, que a economia mundial precisa com urgência. Rodrik falou antes do
tempo do populismo, fenómeno que ocupou o lugar da crítica da globalização,
perante uma social-democracia incapaz de perceber a relevância do reformismo
global da economia mundial. Tal como repetidas vezes aqui o assinalámos, Rodrik
demonstrou a total impossibilidade de conseguir aprofundar a integração
económica global, respeitar o Estado- Nação e garantir no plano mundial a
barganha sindical justa e necessária, o seu chamado TRILEMA DA GLOBALIZAÇÃO.
Por vezes, há economistas que não são ouvidos no tempo certo e a história
perde com isso. Regra geral, algures no tempo, um prémio qualquer procura
recuperar essa injustiça. Assim aconteceu com o Princesa de Astúrias.
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