(A passagem do epicentro da pandemia após desconfinamento
para o coração da aglomeração de Lisboa tem suscitado interpretações diversas, parecendo
não existir ainda uma interpretação que se sobreponha a todas as outras,
penalizando seriamente a comunicação dos agentes públicos. Tenho seguido os números dos últimos dias numa tentativa de melhor conhecer
o terreno que piso em desconfinamento e ensaio neste post algumas explicações
possíveis.)
Reportando a minha análise aos três últimos dias, o foco pandémico que
paira sobre o coração da aglomeração metropolitana de Lisboa é demasiado
evidente para poder ser ignorado. Vejamos os principais números:
Coração da aglomeração metropolitana
|
Números de novos casos nos últimos 3 dias (23 a 25 de
junho)
|
Amadora
|
110
|
Cascais
|
43
|
Lisboa
|
127
|
Loures
|
66
|
Odivelas
|
119
|
Oeiras
|
40
|
Sintra
|
163
|
Vila Franca de Xira
|
68
|
Total
|
736
|
Em torno deste coração metropolitano, podemos anotar ainda alguma dinâmica
de novos casos na Península de Setúbal e no Médio Tejo e Lezíria:
Médio Tejo e Lezíria
|
Números de novos casos nos últimos 3 dias (23 a 25 de
junho)
|
Azambuja
|
10
|
Benavente
|
3
|
Coruche
|
1
|
Entroncamento
|
1
|
Moita
|
20
|
Montijo
|
2
|
Palmela
|
5
|
Salvaterra de Magos
|
1
|
Santarém
|
24
|
Setúbal
|
21
|
Tomar
|
2
|
Total
|
90
|
Adicionemos ainda
a estes números os do Oeste e região de Leiria:
Oeste e Região de Leiria
|
Números de novos casos nos últimos 3 dias (23 a 25 de
junho)
|
Arruda dos Vinhos
|
1
|
Bombarral
|
1
|
Cadaval
|
2
|
Caldas da Rainha
|
6
|
Leiria
|
10
|
Mafra
|
9
|
Ourém
|
8
|
Peniche
|
14
|
Porto de Mós
|
4
|
Torres Vedras
|
5
|
Total
|
60
|
Para além destas
evidências, temos essencialmente os surtos de Reguengos de Monsaraz e de Lagos
a marcarem respetivamente as incidências no Alentejo e no Algarve, um número
reduzido de casos na região de Aveiro (Aveiro e Vagos), o mesmo no Tâmega e
Sousa em Marco de Canavezes e a incidência metropolitana a norte limitada a
Vila Nova de Gaia e a Espinho, respetivamente com 18 e 3 casos.
Como explicar
esta inversão que parece estar associada ao processo de desconfinamento?
O início do
epicentro no Norte esteve inequivocamente ligado à internacionalização da sua
indústria, tal como o demonstram as cadeias de contágios a partir de pessoas
que participaram em missões comerciais em Itália e em Espanha. O agravamento da
situação determinou o confinamento do país e este encerramento beneficiou claramente
a grande aglomeração de Lisboa durante algum tempo, pois o seu cosmopolitismo internacional
que teria inapelavelmente reproduzido o número de casos importados viu cerceada
a sua influência disseminadora. A inversão entretanto observada, visível
sobretudo na comparação de hoje entre o número de casos totais confirmados
entre o Norte e a região de Lisboa, com esta última agora na dianteira, parece
ser um produto do desconfinamento. A pergunta de vários milhões consiste em
saber porque razão o desconfinamento tem produzido esta inversão e este
desequilíbrio norte-sul de casos confirmados?
Não esqueçamos
que, por força do encerramento de fronteiras terrestres com Espanha e do transporte
aéreo, a exposição a norte do cosmopolitismo industrial está como que suspensa.
Com a exposição em suspenso dos dois cosmopolitismos diferenciados, o do Norte
e o de Lisboa, terá jogado, penalizando a região de Lisboa, um outro conjunto de
fatores: concentrações logísticas e maior massa de deslocações em transporte público
em casa e trabalho, maiores concentrações de trabalho precário exposto a essas
mesmas condições, maior densidade de bairros problemáticos. Este padrão de
influência é compatível com os valores encontrados para os novos casos nas
regiões algo mais distantes do coração metropolitano de Lisboa (Península de
Setúbal, Médio Tejo e Lezíria, Oeste e Região de Leiria), mas não explica a
razão da construção civil parecer emergir como setor problemático apenas na
região de Lisboa. Continua a não estar disponível uma explicação plausível para
essa evidência determinada pela testagem.
Estando anunciada
a exposição internacional dos dois cosmopolitismos com a abertura de fronteiras
com Espanha e do transporte aéreo pelo menos com a União Europeia, é uma incógnita
como as duas principais aglomerações do país reagirão a essa abertura. Sem
dados para tal intuição, gostaria de ensaiar alguma análise em torno dos dois
modelos de desenvolvimento urbano das duas aglomerações, mais policêntrico o do
Norte e mais concentrado o de Lisboa. Talvez esteja aí a raiz desta estranha
inversão em desconfinamento.
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