quinta-feira, 4 de junho de 2020

UM TOQUE DE PESSIMISMO


(Klaus Stuttman, http://www.tagesspiegel.de)

Estes dias de gravíssimos tumultos raciais em inúmeras cidades americanas prenunciam o que pode vir a tornar-se o centro fulcral de um certo “novo anormal” que pode estar a germinar como resultado da crise pandémica e dos seus múltiplos e complexos contornos. Aguardemos com a esperança possível, deixando que entretanto Trump assuma até às últimas consequências a iniciativa da asneira para que parece inclinar-se e que toda a demais poeira assente de modo a que o que verdadeiramente relevará se torne mais percetível.

Não obstante, é desde já notório esse cheiro incómodo no ar, um ar que assim se vai tornando crescentemente irrespirável e de entorno nada descansativo. Sintetizo a situação recorrendo ao modo persuasivo e preocupante com que Martin Wolf se exprimiu num dos seus excelentes vídeos no “Financial Times”: “as consequências políticas são imprevisíveis e poderão ser devastadoras” – é isso mesmo que me vem frequentemente à cabeça nestes dias em que a incerteza domina e os riscos recrudescem assustadoramente. Como o referido vídeo concluía, tudo o que é essencial passará em larga medida pelo modo como formos capazes de reequacionar coletivamente a relação entre vencedores e vencidos no nosso sistema económico porque, “de outro modo, não acredito que os nossos sistemas democráticos sobrevivam”. Tão simples e cru como isso...


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