terça-feira, 23 de junho de 2020

CURIOSIDADE PANDÉMICA



(A comparação das taxas de infeção por mil habitantes ou simplesmente dos valores absolutos de casos COVID confirmados tem sido objeto de forte controvérsia dados os diferentes níveis e estratégias de testagem por parte dos países. Tem sentido esta controvérsia? Vale a pena perder tempo com a mesma?)

Os países não seguiram as mesmas estratégias de testagem ao longo da pandemia. Os valores que temos em presença são fortemente contrastados. Por exemplo, aos valores mais recentes (de hoje), Portugal realizou até agora praticamente 102 testes por mil habitantes, sendo apenas ultrapassado, na minha amostra esclareça-se, pela Islândia (196 testes por 1000 habitantes), pela Dinamarca (168 testes por 1000 habitantes), pelo Reino Unido (125 testes por mil habitantes) e pela Espanha (110 testes por mil habitantes). Em contraponto, países, por exemplo, como a Índia (5 testes), o Brasil (12 testes) e a Suécia (38).

Com base esta evidência, temos tido reações de natureza diversa. É o caso da posição aparentemente sensata de que as coisas não são comparáveis, caso de António Costa e do governo português manifestamente de candeias às avessas com os países que com base nos novos casos negaram a abertura imediata de fronteiras a Portugal. Como seria de prever, o inclassificável Trump sugeriu que os EUA passariam a fazer menos testes para não produzir números tão incendiários na opinião pública.

Esta questão tem uma dimensão sem sentido e que se compreende facilmente. Como é óbvio, a realização de mais testes per capita corresponde a um desígnio social favorável à comunidade, identifica casos e age em conformidade, independentemente de serem assintomáticos ou não. Por isso, quem assume testar mais tem de preparar a sua opinião pública para esse facto.

Uma outra questão mais analítica do que outra coisa seria “normalizar” o número de infetados alinhando-o por um valor de testes por mil habitantes considerado equilibrado, como por exemplo a Alemanha, tão citado inicialmente pela sua estratégia de testar em massa.

Ensaiei, assim, essa normalização para os valores de hoje, comparando taxas de infeção por mil habitantes reais, isto é, sem normalização, com taxas de infeção normalizadas admitindo que todos os países teriam tido um comportamento de testagem igual ao da Alemanha.

Os dois gráficos em confronto constam deste post.


Retiro apenas por curiosidade esta conclusão: os escandinavos, com exceção da Suécia, apresentam todos taxas normalizadas de infeção muito baixas, ao contrário da Suécia que sai bastante mal na fotografia devido à sua experiência laboratorial viva da abortada imunidade de grupo. Por isso, quando se criticar a posição dinamarquesa relativamente a Portugal, convém não ignorar que a Dinamarca testa mais do que Portugal e apresenta uma taxa de infeção mais baixa real e obviamente também normalizada.

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