O meu colega Freire de Sousa já aqui tinha abordado a questão, tomando aliás
partido pela escolha de Janet Yellen para suceder a Ben Bernanke nos comandos
do FED americano. A luta está renhida entre Janet e outro peso pesado Lawrence
Summers, dos tais nomes que ocuparam merecidamente as nossas aulas em matérias
diversas, no meu caso, o seu importante contributo com Bradford DeLong para a
explicação do comportamento dos preços relativos do equipamento e maquinaria ao
longo do processo de desenvolvimento económico. E, de repente, apercebemo-nos
que se trata de gente que pensa e trabalha bem a teoria económica, mas que
aparece também associada à intervenção política (foi secretário do Tesouro
americano no último ano e meio da administração Clinton)e largamente influente
no primeiro mandato de Obama e personagem chave da discussão do estímulo fiscal
(para muitos considerado insuficiente entre os quais Christina Romer, chefe do
grupo de assessores do Presidente americano) com que a administração Obama
abordou os efeitos da recessão de 2008.
A escolha do sucessor de Bernanke não é coisa pouca e não é apenas uma
questão americana. Nas condições em que o mundo económico ocidental se encontra,
o comportamento do FED na abordagem à economia americana é crucial, pois será
sempre um fator de balanceamento à cegueira da Comissão Europeia e do Reino Unido
como têm tratado o prolongamento anómalo da recessão. Pode dizer-se que o FED não
tem sido um apoiante entusiástico do estímulo fiscal. Mas, como dizia Krugman há dias,
o quantitative easing (via política
monetária) nos EUA é o que nos resta porque, do ponto de vista político, o estímulo
fiscal está bloqueado graças à intransigência republicana e às hesitações
democratas.
O debate está ao rubro e mostra de novo a consistência do debate económico
americano, aberto, frontal, envolvendo academia, opinião pública, políticos.
Nas últimas rondas, Janet Yellen parece de facto ganhar alguma
superioridade, sobretudo quando o editorial do New York Times de 29 de julho dava conta de manobras dos apoiantes
de Summers defendendo a necessidade de um terceiro nome para desbloquear a
situação, uma prova evidente de perda de força e uma tentativa de bloquear a
superioridade de Yellen.
Dos materiais de imprensa e blogues americanos sobre o tema, a
superioridade de Janet Yellen é notória, combinando uma reputação académica de
excelência (Berkeley) e uma longa experiência de política monetária (quer na
presidência do Federal Reserve Bank de
S. Francisco, quer na vice –presidência do próprio FED). Os pontos fracos de
Summers surgem relacionados com a sua passagem pelo primeiro mandato de Obama e
por posições menos claras no tema do estímulo fiscal e da política de habitação
após o rebentamento da bolha imobiliária. Yellen parece reunir neste momento o
apoio da esquerda democrata, dos liberais e dos grupos feministas e tem o apoio
claro de Christina Romer, ex-chefe do grupo de economistas assessores de Obama
e do próprio New York Times.
Ideias inteligentes de suporte a Summers não têm abundado. A exceção é de Bradford De Long seu amigo e longo colega de produção académica (veja-se o principal
artigo dos tempos atuais sobre as condições em que o estímulo fiscal é favorável
de autoria dos dois, "Fiscal Policy in a Depressed Economy"). O argumento é este: em tempos de perturbação, pensar “out of the box” é crucial e nessa linha
Summers seria melhor do que Yellen. É uma opinião. Outros como Tyler Cowen
sugerem que Summers seria melhor candidato para ter voz junto dos republicanos.
Não consigo racionalizar o meu balanceamento para Janet Yellen, mas há
qualquer coisa em Summers, apesar do meu reconhecimento intelectual, que me faz
coçar a orelha. O que será?