quinta-feira, 4 de julho de 2013

PODE ALGUÉM SER QUEM NÃO É?

 
 

Alertado por um contristado colega que, tal como eu, há décadas conhece Daniel Bessa (DB) da “mãe comum” FEP – e recorrendo à milagrosa funcionalidade do serviço Timewarp do sistema IRIS da ZON –, fui recuperar o “Quadratura do Círculo” da semana passada que tinha perdido por imperativo de solicitações externas. Onde, não sei muito bem porquê – nem isso importa para o caso! –, Lobo Xavier esteve ausente e foi substituído pelo convidado DB.

E foi verdadeiramente penoso – podia também dizer pungente ou até degradante – assistir àquele debate, sobretudo enquanto o mesmo esteve centrado na análise da greve geral do dia 27. Com DB a abrir hostilidades sustentando provocatoriamente que “uma greve num contexto destes não está do lado da solução, seguramente” e Pacheco Pereira a responder-lhe afirmando privilegiar o ponto de vista da cidadania e da identidade – nestes termos: “as greves por si só não são a solução, mas é saudável que 300 ou 400 mil pessoas prescindam de um dia de trabalho para protestar sem qualquer perspetiva de ganho imediata” mais “apesar de tudo, acho que quem protesta, desta e de outras formas, está do lado certo” mais “porque há uma componente moral, há uma reserva moral que nós temos de encontrar na sociedade, que é a única que é capaz de resolver o problema do bloqueamento político”, concluindo “e eu estou do lado dos que se levantam”.


DB muda de semblante, passa num repente de uma desafiadora atitude de guicho a uma envergonhada postura de rapazinho apanhado em flagrante delito e declara calimericamente: “eu já fui cilindrado hoje aqui, completamente cilindrado”. Depois reforça, algures entre um falso néscio e uma vítima de irrecuperável traumatismo: “eu não me importo de perder” e “eu sou politicamente incompetente, essa prova foi feita quando tinha de ser feita”. Para, em seguida, ensaiar uma reação com laivos de discernimento (“a economia não será mais o que era”), falar em flexibilidade, argumentar com um rigor bem restritivo (da Europa dita jurássica à situação britânica e desta à legislação laboral, p.e.) e se recompor contra-atacando sem contemplações (“eu tenho muita dificuldade em responsabilizar o administrador da massa falida pelo que quer que seja”, “eu olho é com alguma misericórdia”).

Faltam-me as palavras necessárias para retirar a adequada moral desta história. Mas, se fosse obrigado a fazê-lo, talvez optasse por algo em torno do pasmo perante uma tão obscena subtração de respeitabilidade…

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