Ontem, tive um dia em cheio
e bem passado, no encontro Europa 2020 organizado pela Universidade de Aveiro
(Planeamento Regional e Urbano), pela Associação Portuguesa dos Planeadores do
Território (APLA) e APDR. Oportunidade para reencontrar velhos amigos, privar
em contexto de trabalho com o meu filho Hugo e sobretudo libertar-me pelo menos
um dia das amarras da consultadoria e agir como se fosse um puro universitário,
que poderia ter sido.
Um ambiente amigável e fértil
de discussão, uma juventude de produção de conhecimento cada vez mais
consistente, que conseguiu abstrair do desconchavo político em que nos
mergulharam (tão desconchavado que dá para um agonizante Cavado emergir como o
salvador da situação, cruzes credo).
Com os corpos a derreter
pelo calor, as ideias permaneceram frescas e o ambiente foi universitário no
bom sentido – diversidade de ideias, contrapontos, confronto, sentido crítico,
avaliação de oportunidades de intervenção com base no conhecimento.
Na minha sessão – o Território
e a Competitividade Nacional – Duarte Rodrigues do Observatório do QREN
trouxe-nos a sua excelente capacidade de reflexão e problematização dos rumos
da programação 2020, sobretudo com a sua experiência de alguém que tem
acompanhado as negociações no âmbito da Comissão Europeia e também o Comité de
Política Regional da OCDE. É, na minha perspetiva, entre a administração mais
jovem um pensamento aberto e promissor que tem vindo a destacar-se e vale a
pena discutir com ele. A Arquiteta Teresa Almeida trouxe o projeto de
relançamento da cidade de Lisboa para a abordagem da estratégia Europa 2020,com
grande concertação de atores e de interesses, marcando bem a diferença com a
atomização do Porto e do seu território. Este vosso amigo procurou incomodar as
consciências mais acomodadas, procurando demonstrar que nas, condições atuais,
o tema da competitividade empresarial ganha prioridade face ao da
competitividade territorial, evidenciando necessidade de focagem das políticas
de competitividade territorial. O que não deixa de ser surpreendente para alguém
que tem andado mais perto da competitividade territorial do que da empresarial.
Mas as evidências assim o estimulam.
O dia terminou com uma
excelente mesa redonda composta por Jorge carvalho ma moderação, João Ferrão,
Eduardo Anselmo Castro e Artur Rosa Pires sobre as condições de governação da
nova programação. João Ferrão suscitou criticamente os desafios de governação
que se levantam a nível de NUTS II e NUTS III e denunciou a ausência de estratégia
e de políticas nacionais capazes de assegurar uma menor dependência face às
oportunidades de financiamento da Europa 2020, as únicas existentes e os desafios
de integração entre máquinas administrativas que não têm prática nem cultura de
cooperação: FEDER, FSE e FEADER. Eduardo Anselmo foi talvez o mais derrotista dos
três, evidenciando resultados de clubes de convergência na EU que mostram que são
as regiões mais ricas a evidenciar os mais elevados ritmos de crescimento e que
face ao elefante da cegueira macroeconómica da EU a política regional é uma
inofensiva formiguinha. Artur Rosa Pires destacou a vitalidade do nível local
na invenção de soluções de superação face à crise, centrando-se no seu conhecimento
das dinâmicas da região Centro, afirmando-se como o mais otimista da mesa,
extensivo ao modo como vê na especialização inteligente uma oportunidade de
apoio a dinâmicas de interação e cooperação na Região.
Um dia bem passado.
No fim a ausência do Secretário
de Estado do Desenvolvimento Regional, Catsro Almeida, um homem da Região, foi
notada. A relação entre o poder e o conhecimento continua a ser problemática.
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