Enquanto esperamos que as palacianas negociações acabem por aboutir (a palavra é francesa mas, no caso, bem mais onomatopaica do que qualquer das nossas), passam-nos pela frente os mais variados comentários e opiniões. De ontem, seleciono alguns dos mais credíveis e vindos do espetro político mais à direita. Todos com o seu ponto, a sua lógica, as suas motivações, mas todos críticos e descrentes e todos instando Cavaco – uns preferindo eleições e outros salvações…
Adriano Moreira, o senador dos senadores: “São inevitáveis [as eleições antecipadas]. Mas é preciso também ter um sentido de Estado para isso e pensar seriamente na situação financeira do País e que provavelmente essa situação se tornará muito pior. (…) Inclino-me muito para aceitar que tem que haver eleições antecipadas, se não houver uma recuperação – que parece difícil – do Governo, mas nunca sem termos um orçamento e sem termos o julgamento da Troika, por muito humilhante que seja. (…) Ainda vamos ter que esperar para encontrar soluções credíveis – credíveis! – e em que as entidades que eu julgo que devem tomar responsabilidades, designadamente os partidos, têm que intervir para designar as lideranças, se as mantêm, se as mudam, etc., assumir a responsabilidade, e que o Presidente da República fique com os elementos todos para assumir a autoridade que se espera do Presidente da República. (…) O Presidente precisa de ter reconhecida essa autoridade, para isso também tem que a exercer e, neste momento, o Presidente… é-lhe exigível uma intervenção muito séria. (…) O País vai pura e simplesmente a caminho da bancarrota, isto é a expressão.”
Diogo Freitas do Amaral, frontal e propositivo: “Estas lideranças, na minha opinião, falharam. E falharam porque, desde o início, por preconceito ideológico neoliberal, cego, quase diria fadântico, resolveram interpretar o memorando pela forma mais gravosa aos interesses de Portugal e dos portugueses, em vez de terem feito o que seria normal que era interpretar o memorando pela forma menos prejudicial ao nosso País e aos portugueses. ” Acrescentando: “Bom, se chegarem a acordo neste momento não há que procurar uma saída para a crise, mas eu acho que isto vai durar pouco, vai durar dois ou três meses, talvez até ao Verão, talvez até às autárquicas, talvez até ao orçamento, não estou a ver este Governo tão fragilizado, e com políticas erradas como reconheceu Vítor Gaspar, ser capaz de elaborar o orçamento para 2014. (…) Eu acho que, e acho isso desde 2011, a melhor solução para o País era um governo de salvação nacional ou de unidade democrática ou de concentração – expressão que se utilizou muito no século XIX em Portugal para situações parecidas, até com perigo de bancarrota –, para já com os três partidos chamados do arco da governação, os signatários do memorando, aqueles que querem tentar resolver o problema, dentro do Euro, dentro da União Europeia e cumprindo com o memorando. (…) Qual seria o objetivo desse governo de concentração ou de unidade? Seria, por um lado, ter mais força negocial perante a Europa e perante a Troika para obter menos austeridade – sem prejuízo do rigor orçamental que é necessário – e mais medidas de estímulo ao crescimento e ao emprego, que é como quem diz ao combate ao desemprego. (…) Esse governo não podia ser um governo por muito tempo, tinha de ser um governo por seis meses, um ano, e a seguir eleições.”
António Bagão Félix, em nome de uma utopia: “Eu, como português, desejo que sim [capacidade do Governo para governar até ao fim?]. Agora, sinceramente, não acredito muito. Eu acho que nós vamos entrar na situação do que eu chamo a estabilidade da instabilidade em que já não é a mesma coisa, o divórcio de algum modo está consumado e agora podem viver juntos – certamente com sentido patriótico, não ponho isso em causa apesar de algumas irreverências, apesar de algumas precipitações. Acho que o País precisava neste momento – também não concordo com eleições, devo já dizer (…) – e, portanto, o que eu gostaria – percebo que é muito difícil – é que houvesse uma atuação com grande protagonismo do senhor Presidente da República nesta fase, ele foi eleito por todos os portugueses, dizendo melhor é o presidente de todos os portugueses, neste momento é a única instituição, constitucional, política, para quem nós podemos olhar ainda com alguma esperança de, pelo menos até ao final do período de ajustamento no próximo ano, ter uma forma de governo que não estivesse, de algum modo, com estes problemas, com estas querelas e sequelas, mas com os três partidos – podem não ser pessoas dos partidos, mas que os três partidos se responsabilizariam por apoiar o cumprimento daquilo que já está estabelecido. Sei que não é fácil, é quase uma utopia, mas – atenção! – o País está à beira do precipício e tudo que seja tático é uma forma de não ser patriótico, seja quem for o ator dessa tática e o dinamizador das várias manobras.”
José Pacheco Pereira, acusador e realista: “O que acontece é que um grupo de pessoas claramente impreparado para as responsabilidades e para o tempo que têm que atravessar, pelos mecanismos mais perversos do sistema político-partidário, chegam ao máximo do poder e o que fazem quando chegam ao máximo do poder é mostrarem o ‘princípio de Peter’ em todo o seu esplendor. São pessoas que, se a gente pensasse bem, pelo seu currículo, pela sua experiência prévia, por aquilo que fizeram na vida, estavam longe de estar preparadas para gerir um País no meio de uma enorme crise económica e social e política. E, portanto, resultou no que tinha que resultar. (…) E é por isso que quem seja misericordioso com os portugueses acaba com isto o mais depressa possível, vai a eleições – porque as eleições podem não dar nenhum resultado brilhante e eu estou convencido que não dão nenhum resultado brilhante porque os partidos políticos, de um modo geral, fornecem aos portugueses um produto muito semelhante, mas pode pelo menos das eleições resultar alguma margem de manobra política que não existe hoje, hoje não existe nenhuma. E é por isso que o Presidente e quem for responsável no meio deste ‘reality show’, se quiser, tem a obrigação de garantir que as pessoas no final têm, pelo menos, diminuído os estragos. Vai haver sempre estragos, vai haver estragos durante muito tempo, vai haver estragos nos partidos, vai haver estragos na democracia, vai haver estragos na vida de todos os portugueses; mas alguns estragos podem ser contidos, e é isso que se pode fazer hoje, pouco mais.”
Para memória futura. Apesar da possível dominância de uma limitação, de tremendo alcance: é que nenhum dos quatro citados formulou explicitamente a hipótese, que se vai consolidando, de Portugal poder estar à beira de se vir a tornar uma terrível inexistência…
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