Começo desde já por me referir ao que não almeja este post, a saber: a com ele me constituir em parte ativa desse crescente grupo de futuros “vencidos” na procura de convencer Cavaco, a bem e devagarinho, para que opte por uma convocação de eleições legislativas antecipadas.
Mas não deixam de existir formas inteligentes e rebuscadas de o sustentar, como tão claramente evidenciaram ontem António Costa e Pacheco Pereira no “Quadratura do Círculo”. O primeiro ao clamar que “a haver crise, mais vale agora do que depois”, contrapondo à agitação do receio da nossa exposição aos mercados o facto de que “neste momento estamos sob auxílio e, portanto, sob alguma proteção”. O segundo ao explicar as razões de uma inevitabilidade de eleições, apesar dos seus riscos, e o modo como as “pessoas sensatas” necessariamente as têm de encarar como parte de um cenário mais abrangente que tem de ser forçosamente “bem preparado”.
Inevitabilidade porque o Presidente da República tem de compreender que “há aqui um problema de impasse e bloqueio político que está muito para além destes incidentes” e “porque não há hoje cimento que permita não só manter a coligação mas cimento que permita fazer um Governo consistente debaixo de Passos Coelho”.
Risco, um “grande risco” até, mas um risco menor do que a manutenção da situação atual “porque este tipo de crises são crises que afetam o âmago de todas as relações de confiança, porque são crises que são destrutivas de qualquer solução, são crises que todas as vezes que acontecem diminuem a margem de manobra de todos os atores no terreno”.
Preparação porque “a questão das eleições antecipadas tem que ser associada a um acordo prévio que implique como é que se vai viver durante os meses até às eleições”, porque “esse acordo prévio pode inclusive ter virtualidades políticas que a atual situação governativa não tem” e porque o mesmo “para ser credível, tem de envolver o PS porque, se o PS quer eleições antecipadas, ele não pode desligar-se do período anterior às eleições”.
Mas, como referia a abrir, não há que ter ilusões quando a decisão final será sempre filha do corajoso ego “cavaquiano”…
P.S.
Este texto estava já escrito e à bica de divulgação quando soube que um acordo – em quantos já vamos? – foi alcançado entre Passos e Portas e já comunicado a Cavaco, que ficou a pensar durante o fim de semana. Nada que surpreenda no quadro da encenação e do jogo de sombras que se nos vai oferecendo. Amanhã, os partidos da maioria farão a festa de reconciliação. Terça ou Quarta, Cavaco virá dizer, com cara de poucos amigos e ar patriótico, como nesta crise ficou expressa a prova de quanto o País precisa de Si. Saber-se-á de fonte oficial, então, que o pequeno Moreira da Silva será finalmente ministro (antes que seja tarde…). E que Portas vai coordenar as áreas económicas do Governo – como se o problema fosse esse e não umas Finanças dominadoras e dirigidas por uma Troika sem baias e ainda mais funcionalizadas nas mãos de Maria Luís! Não seria mais azado para os seus próprios interesses – que é o que mais supremamente valoriza – que usasse a sua assim acrescida margem de manobra para desenvolver um trabalho político de tipo novo, junto dos sacrossantos mercados e dessa amedrontada Europa, ostentando uma reforçada qualidade de ministro dos Negócios Estrangeiros? Pobre Portugal…
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