terça-feira, 2 de julho de 2013

AUF WIEDERSEHEN


Reencontrei no demissionário Vítor Gaspar de ontem alguns dos traços que lhe imputava desde que o conheci no início dos anos 90 e dos quais se vinha mostrando crescentemente afastado. Como tive oportunidade de explicar num post de 23 de fevereiro: “O Gaspar que em tempos conheci já era inteligente, já era educado, já era tímido, já tinha sentido de humor e já possuía sólida formação económica. Mas era também rigoroso e intelectualmente honesto, atributos que este ministro das Finanças começa a ter dificuldade em honrar e prolongar.”

Dito isto, até com algum agrado pessoal, terei também de sublinhar que a escolha do tempo, do modo e dos termos só se tornam compreensíveis por parte de alguém que já nada quer ter a ver com nada disto, de alguém para quem o mundo da política foi uma passagem breve e irrepetível. Por isso se pode dar ao luxo de bater com a porta com todo o estrondo e de explicitar verdades longamente entupidas, i.e., de uma completa despreocupação com as consequências.

Mas mais ainda: ao apontar objetivamente o dedo acusador aos líderes partidários da maioria (Passos e Portas) – referindo-se à “ausência de um mandato para concluir atempadamente o sétimo exame regular” e sublinhando que “é minha firme convicção que a minha saída contribuirá para reforçar a sua liderança e a coesão da equipa governativa” –, Gaspar não se eximiu também à sua própria e severa autocrítica, designadamente assumindo que “a repetição destes desvios minou a minha credibilidade enquanto o Ministro das Finanças” e considerando não estar “em condições de assegurar” os exigíveis contributos de “credibilidade e confiança”.

Foram assim dois anos para esquecer, até deploráveis a muitos títulos. Agora, e como se diz no futebol, “há que levantar a cabeça e preparar o próximo jogo”. Que não passará certamente por este condenado retângulo, onde apenas quis deixar a marca de um contributo clarificador (?) – e aí vai mais um dos nossos melhores cérebros a caminho de emigrar…

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