Parecem já quase de outra incarnação as minhas memórias de quando referenciava o modelo de Lewis aos alunos da então disciplina de Desenvolvimento e Crescimento Económico na FEP. Baseado num artigo publicado em 1954 (“Economic Development with Unlimited Supplies of Labour”), esse “modelo dual” esteve no centro das razões para que o conhecido economista britânico e caribenho que lhe dá o nome (William Arthur Lewis) tivesse sido laureado com o Prémio Nobel da Economia de 1979. Em termos simples, a sua principal contribuição terá sido a de contrapor à apresentação neoclássica das economias menos desenvolvidas (pobres) como insuficientemente dotadas no fator trabalho uma ideia alternativa de elas integrarem dois setores, um de muito pequena dimensão dito moderno e intensivo em capital e outro de enorme dimensão dito tradicional e no qual uma escassa acumulação de capital ocorre enquanto se forem verificando condições caraterizadas por um largo excesso de trabalhadores (“exército de reserva”).
Pois foi uma agradável surpresa reencontrar Lewis pela pena de Paul Krugman, num artigo recente no “The New York Times”, e a propósito da atual situação da economia e da sociedade chinesa. Onde refere, com o brilho vulgarizador que também se lhe reconhece, a “grande aflição” em que a China se vai encontrando após terem chegado ao seu limite as bases de um crescimento incrível e ininterrupto de mais de três décadas (vejam-se o sinal dado pelo registo de uma diminuição da taxa de crescimento para 7,5% no segundo trimestre, o valor mais baixo desde finais dos anos 90, e os gráficos abaixo reproduzidos a partir do “Financial Times”). Onde explica os paradoxais níveis baixos de consumo na China e que o país “parece investir apenas para expandir a sua capacidade futura para investir ainda mais”. Onde recorre à “velha perceção” de W. Arthur Lewis para sustentar que a China terá alcançado o “ponto de Lewis” ao se estar a aproximar de um esgotamento da sua anterior disponibilidade em camponeses subempregados e excedentários.
O texto evolui depois para a necessidade urgente de um “rebalanceamento” drástico da economia chinesa, sem o qual corre o risco de uma significativa depressão. Não há mais espaço para uma moeda continuamente desvalorizada nem para uma inundação de crédito barato nem para uma persistente contenção do consumo. E embora Krugman matize os efeitos globais desta situação – ao salientar que, a valores de mercado, o problema é grande mas não gigantesco –, ele não deixa de a qualificar em termos de uma certa “chicotada intelectual”. E de assim terminar, ironicamente: “Ainda outro dia tínhamos medo dos chineses. Agora temos medo por eles. Mas a nossa situação não melhorou”…
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