sábado, 20 de julho de 2013

A AUSTERIDADE EM AÇÃO



Apesar de ainda persistirem alguns negacionistas no tocante a esta matéria, nunca será demais acentuar os maléficos efeitos desse desastre europeu que se entendeu designar por austeridade sob o alto patrocínio de uma aliança imposta por financeiros criativos e poderosos e políticos inconscientes e incompetentes.
                                              
Recapitulemos, começando por observar os gráficos acima (reproduzidos de um recente artigo de Martin Wolf, “How Austerity Has Failed”, no “The New York Review of Books”). Em 2010, a Zona Euro dava alguns sinais importantes de recuperação dos efeitos da “grande recessão” de 2008-2009; depois, vieram a crise grega e a decisão inverter as políticas macroeconómicas e de castigar os “incumpridores”. Os resultados estão à vista: o conjunto da Zona Euro, que tinha crescido 2% entre 2009 e 2010, passa a evidenciar um crescimento cumulativo de apenas 0,4% entre 2010 e 2013; os países da periferia (Grécia, Portugal, Itália e Espanha, por esta ordem de gravidade) são especialmente atingidos, com reflexos bem conhecidos a nível da explosão registada nas respetivas taxas de desemprego e consequente situação social.

Vejamos a coisa de um outro ângulo: os cortes na despesa e os aumentos de impostos realizados durante o presente período de austeridade ascenderam a montantes gigantescos (11,8% do PIB potencial na Grécia, 6,1% em Portugal, 3,5% em Espanha e 3,4% em Itália), sendo que a exemplaridade do balanço português destes últimos dois anos de “para além da Troika” fala por si (ver o quadro abaixo, reproduzido do JN, mesmo ressalvando uma ou outra deficiência de adequação rigorosa).
 
 

E, agora, o reverso da medalha, uma espécie de caminho para a irrelevância”, ilustrado com o auxílio dos dois gráficos abaixo (reproduzidos do “Financial Times”). O primeiro mostra quanto caíram – shrunk é o termo apropriado – nestes anos os volumes financeiros detidos por estrangeiros nos bancos localizados em países da periferia europeia (em torno de 2 biliões de euros desde finais de 2007, após um crescimento exponencial de quase 4 biliões entre 2003 e 2008). Uma nova e final estocada virá proximamente das regras da “união bancária”, designadamente dos riscos suscitados pela diretiva de bail-in quanto aos depósitos detidos por grandes empresas.
 
 

O segundo gráfico mostra quanto o contexto europeu evidencia hoje um novo e importante “fator de estabilização” (na ótica dos interesses aí dominantes, bem-entendido). Com efeito, e observando a evolução do peso relativo dos montantes de dívida pública portuguesa detidos por não residentes, constatamos que a austeridade desempenhou bem o seu papel ao serviço de um ganho de tempo por parte daqueles interesses externos com vista a lograrem reduzir gradativamente e sem sobressaltos a sua exposição à dívida periférica e, no caso, portuguesa: de ¾ do total em 2008 para cerca de 1/3 em finais de 2012.

Paul De Grauwe foi, a este propósito, cristalino num artigo no “Expresso”: “A origem da crise é hoje bem conhecida. Os países do Sul da Europa, incluindo Portugal, endividaram-se demasiado no passado. Mas, como tantas vezes disse nesta coluna, estes países só puderam endividar-se assim porque os bancos do Norte da Europa, e especialmente os alemães, estavam ansiosos por lhes empresar massivas doses de dinheiro. Assim, para cada devedor louco no Sul houve um credor louco do Norte.”
 

Resumindo e concluindo: a austeridade falhou ao fazer abortar um relançamento económico nascente em proveito de uma estagnação sem precedentes e ao impor custos desnecessários e atrofiamentos definitivos às sociedades europeias mais vulneráveis, mas não foi por isso que deixou de cumprir a principal missão que lhe foi confiada…
 

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