(Tavira - João Pedro Marnoto para o New York Times)
“Um outro Algarve ou o paradoxo dos nichos de mercado turístico” poderia
ser um título alternativo para esta crónica. Agora, que por motivos de trabalho
profissional, me vou ocupar dos destinos da região algarvia, vistos a partir da
perspetiva dos municípios, entrou no perímetro da minha atenção uma excelente
crónica do jornalista Seth Sherwood no New York Times sobre um Algarve mais recôndito, mais recatado e menos explorado.
O artigo de Sherwood lança-nos simultaneamente na nossa memória, recordando
o Algarve inóspito que ainda chegámos afetivamente a viver há três décadas e na
dinâmica de novos empreendimentos que procuram recuperar essa outra faceta não
explorada e que o tempo ainda não consumiu. Alguns estrangeiros foram os
primeiros a descobrir essa outra dimensão da Região e começa finalmente a
perceber-se que o cálculo económico privado começa a querer explorar essa outra
forma de a viver. A visita quase simultânea de Cameron e família coloca por
coincidência a Região nos jornais de Londres e Nova Iorque, embora a dicotomia
dos dois Algarves continue viva, com o Algarve mais consumido pelo tempo a ter
de enfrentar o risco da degradação de infraestruturas ditadas pela concentração
turística e pela retirada dos principais operadores imobiliários que sentem que
o filão se esgotou.
Mas o paradoxo do nicho existe. Nos ecos do artigo do New York Times que passaram pelas televisões portuguesas, quase
todos os entrevistados, estrangeiros e nacionais, referiram as vantagens da não
balbúrdia, a diferença de usufruir de um espaço e de um território com pouca
gente. Bom será assim. Mas a proliferação de artigos como o do New York Times, se produzir os efeitos
desejados, tenderá a trazer mais gente, não necessariamente aos lugares de
procura mais densa, mas precisamente aos lugares em que o tempo pode ser usufruído.
E a pergunta inevitável é a seguinte: terão esses lugares mais inexplorados a
capacidade de acolher essa procura adicional sem perder o seu traço
diferenciador? A questão é estratégica e ou o valor por turista acolhido terá
de aumentar significativamente, ou então esse outro Algarve vai ter de
encontrar a sua engenharia de oferta para não perder a sua inimitabilidade.
Mas se a resolução desse problema contribuirá para uma diversificação
crucial da oferta turística, o outro problema tem de ser também resolvido. E,
no contexto em que a Região se encontra, a responsabilidade de conter a
degradação das infraestruturas ditada pela usura do tempo e pela sobreocupação
sazonal recai nos Municípios, pois todos os outros saíram da responsabilidade e
deixaram a porta aberta.
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