O “Olhos nos Olhos” de anteontem voltou a ser um aflitivo exercício de incontida ignorância e descontrolada pesporrência por parte dos seus dois pivôs – respetivamente, Judite de Sousa e Henrique Medina Carreira (HMC) –, bem secundados por contributos colados com cuspe q.b e servidos à discrição – embora apoiados em alguns gráficos interessantes e de excelente qualidade de impressão (ao invés dos mamarrachos habitualmente apresentados por HMC) – pelo convidado António Neto da Silva (ANS).
O tema abordado (?), as consequências da desindustrialização da Europa – que HMC insiste em que se trata de um domínio fadado para lhe ser mais ou menos exclusivo em função da sua rara perceção analítica (ontem, porém, lá foi atribuindo a NS o mérito de “primeiro economista que eu conheci em Portugal que realmente acha que isto é preocupante e que isto não vai lá”) e demonstrador da “estreiteza de vistas dos políticos da atualidade” –, é de indiscutível e enorme relevância. Como aliás já foi referido por diversas vezes neste espaço pelo António Figueiredo e por mim próprio (sugiro uma consulta exemplificadora dos meus posts de 2 de março de 2012 e 17 de abril de 2013).
Neste programa, começamos por saber que HMC comprou um livro em 1996 em Paris e que este já previa a desgraça europeia e ocidental que aí vinha. Autonomizo abaixo, à atenção dos mais incautos e desinformados, a respetiva referência bibliográfica – sem prejuízo de o acesso ao conhecimento da mesma dever ficar, naturalmente, a crédito do visionário comprador e avisado leitor (como bem comprovavam os inúmeros sublinhados e gatafunhos a que o ecrã deu visibilidade).
Por lá se falou também, avulsamente, de “dimensão de Estado” (que ou se tem ou se não tem), de um combate desigual entre gente munida de metralhadoras e gente apenas com facas, de que “eles [os chineses] foram mais espertos do que nós” (ou, de outro modo, “mérito deles, aselhice nossa”), de que “há trinta anos atrás não se via um automóvel em Pequim e agora não se veem bicicletas” e de que “eles [os chineses, “maiores detentores mundiais de divisas”] já não sabem o que é que hão de fazer àquilo”. E por lá foram ainda diretamente visados e interpelados “os financeiros puros e os académicos puros”…
Mas HMC explicou-nos mais pormenorizadamente que “esta desgraça vem pela mão das multinacionais europeias e americanas” e que “os ocidentais é que se meteram neste sarilho”, que “não se conhece algum sítio onde isto tenha sido discutido”, que o sucesso português dos anos 80 assentou na procura interna e que “não podemos crescer com base nas exportações”, que nunca se fez um relatório de investigação sobre “porque é que as empresas saíram daqui”, que estamos falidos e que os nossos governantes são impreparados porque “a burocracia não é mexida” e a despesa pública não foi atacada. Um perfeito desatino!
Por seu lado, ANS veio explicar-nos que a globalização de hoje já não é comercial nem financeira (?) mas competitiva, que existe uma correlação de 67% entre liberdade económica e competitividade, que a China foi admitida na OMC em 1991 (e eu que pensava que tinha sido dez anos mais tarde!), que “um dos grandes problemas que nos trouxe até esta crise é a ideologia do crescimento contínuo”, que os japoneses se aguentam há dez anos em recessão porque eram samurais e senhores de uma filosofia de sacrifício a bem da Pátria e porque “apareceu um primeiro-ministro a pensar fora da caixa”, que “se tivéssemos pegado na D. Branca portuguesa e a tivéssemos posto à frente da Reserva Federal, ela teria feito provavelmente muito melhor”, que o problema não é o euro (com ilustração baseada num gráfico mui compativelmente intitulado les pays hors zone euro s’en tirent mieux), que “é preocupante” que a ministra das Finanças seja elogiada pelo ministro alemão e que, mesmo se “em vez de estímulos à economia temos austeridade”, há uma “resposta para isto” que é a de “fazer mingar o Estado” (dégage, disse). Uma perfeita “salada russa”!
A sua “proposta que nunca vi fazer” de uma espécie de Acordo Multifibras (que associou bastante indevidamente aos célebres BRIs e BREs) de autolimitação voluntária da China e da Índia em relação às suas exportações para o Ocidente, por forma a evitar um de outro modo inevitável fecho de fronteiras – “preferia que a globalização não acabasse assim” –, era a cereja que ANS guardava para um final em girândola onde iria detalhar um imbatível programa regenerador. Porque a Pátria o reclama e merece – “eu continuo a falar [em Pátria] porque é disso que nós vivemos e é isso que nos interessa” (!) – e porque é preciso “que a população obrigue os partidos do arco do poder a entenderem-se entre eles”. E, mais profundamente ainda, porque a divisa que tem à mesa-de-cabeceira é a de que “a concorrência faz vencedores e vencidos, a cooperação faz invencíveis”. É de homem!!!
Mas HMC explicou-nos mais pormenorizadamente que “esta desgraça vem pela mão das multinacionais europeias e americanas” e que “os ocidentais é que se meteram neste sarilho”, que “não se conhece algum sítio onde isto tenha sido discutido”, que o sucesso português dos anos 80 assentou na procura interna e que “não podemos crescer com base nas exportações”, que nunca se fez um relatório de investigação sobre “porque é que as empresas saíram daqui”, que estamos falidos e que os nossos governantes são impreparados porque “a burocracia não é mexida” e a despesa pública não foi atacada. Um perfeito desatino!
Por seu lado, ANS veio explicar-nos que a globalização de hoje já não é comercial nem financeira (?) mas competitiva, que existe uma correlação de 67% entre liberdade económica e competitividade, que a China foi admitida na OMC em 1991 (e eu que pensava que tinha sido dez anos mais tarde!), que “um dos grandes problemas que nos trouxe até esta crise é a ideologia do crescimento contínuo”, que os japoneses se aguentam há dez anos em recessão porque eram samurais e senhores de uma filosofia de sacrifício a bem da Pátria e porque “apareceu um primeiro-ministro a pensar fora da caixa”, que “se tivéssemos pegado na D. Branca portuguesa e a tivéssemos posto à frente da Reserva Federal, ela teria feito provavelmente muito melhor”, que o problema não é o euro (com ilustração baseada num gráfico mui compativelmente intitulado les pays hors zone euro s’en tirent mieux), que “é preocupante” que a ministra das Finanças seja elogiada pelo ministro alemão e que, mesmo se “em vez de estímulos à economia temos austeridade”, há uma “resposta para isto” que é a de “fazer mingar o Estado” (dégage, disse). Uma perfeita “salada russa”!
A sua “proposta que nunca vi fazer” de uma espécie de Acordo Multifibras (que associou bastante indevidamente aos célebres BRIs e BREs) de autolimitação voluntária da China e da Índia em relação às suas exportações para o Ocidente, por forma a evitar um de outro modo inevitável fecho de fronteiras – “preferia que a globalização não acabasse assim” –, era a cereja que ANS guardava para um final em girândola onde iria detalhar um imbatível programa regenerador. Porque a Pátria o reclama e merece – “eu continuo a falar [em Pátria] porque é disso que nós vivemos e é isso que nos interessa” (!) – e porque é preciso “que a população obrigue os partidos do arco do poder a entenderem-se entre eles”. E, mais profundamente ainda, porque a divisa que tem à mesa-de-cabeceira é a de que “a concorrência faz vencedores e vencidos, a cooperação faz invencíveis”. É de homem!!!
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