O Presidente decidiu
baralhar e dar de novo e as principais figuras do CDS ficaram suspensas dos
desenvolvimentos da iniciativa presidencial não sabemos ainda por quanto tempo.
O meu amigo Carlos Costa,
governador do Banco de Portugal, parece ter impressionado o pensamento mais próximo
do Presidente e o seu pensamento sobre o futuro pós junho de 2014 parece
vaguear pelos corredores de Belém. Cavaco não está convencido da solidez
anunciada pelos desenvolvimentos da negociação que terá ocorrido entre PSD e
CDS, não se pronuncia sobre ela, o que face à copiosa cobertura que a mesma
teve na comunicação social dos últimos dias pode ser lida como uma desautorização,
sobretudo da orgânica de governação que foi passando pelas portas entreabertas
dos gabinetes ministeriais. Rejeita eleições antecipadas nas condições atuais,
invocando sobretudo a soberania e o dicktat
antidemocráticos dos mercados financeiros (realismo dirão alguns), mas
objetivamente não acredita que a maioria possa subsistir para além do termo do
ajustamento e gerir o início do pós-TROIKA. Desenterra assim a necessidade imperiosa
de um acordo a três, sob um modelo de compromisso de salvação nacional,
referindo creio ter ouvido bem a possibilidade de uma personalidade
nacionalmente credível poder ajudar os três partidos nessa negociação (quem? O governador
do Banco de Portugal?).
Baralhou e tornou a dar. Está
no seu direito e no âmbito das funções que desempenha. O que não significa
exequibilidade da proposta. E estou certo que o ritmo cardíaco de António José
Seguro voltou a subir, provocando-lhe uma arritmia que não é saudável, apesar
da sua idade ainda bastante resguardada.
“E agora António José?” é um
bom título para descrever a enorme pressão e responsabilidade que se abate de
repente sobre o Partido Socialista e sobre as suas principais tendências, com
comportamento diverso face à Presidência.
Para lá dos taticismos
eleitorais de acesso mais ou menos rápido ao poder e nestas coisas há muita
gente que começa a salivar antes do tempo (como eu os conheço e tenho assistido
a esse salivar inquieto), o dilema de decisão a que o PS está submetido é o
seguinte: (i) ou entende que o povo português e as suas condições de vida serão
melhor defendidas com uma vitória do PS em eleições, podendo a partir daí gerir
as alianças que os resultados determinarem como necessárias, pressupondo sempre
que no poder, só ou acompanhado, será capaz junto das autoridades
internacionais de conseguir um melhor equilíbrio entre contenção orçamental,
proteção social e estímulos ao crescimento económico do que o anunciado; (ii)
ou entende que, à boleia da iniciativa de Cavaco e mesmo sem ir para o Governo
respeitando a sua democrática opção de não ir para o Governo sem eleições, consegue
fazer infletir a orientação das autoridades internacionais, forçando-as desde já
a condições de ajuda que viabilizem um equilíbrio mais saliente entre contenção
orçamental, proteção social e estímulo ao crescimento e à competitividade, eventualmente
respaldado por um amplo acordo de concertação social. A segunda opção tem a
grande desvantagem de ser feita com companhias que não se desejam a ninguém e a
quem não pode ingenuamente e sem cuidados dar-se boleia.
Não se trata de taticismos
como a perfídia de alguns vai invocar para pressionar o PS. Trata-se de avaliar
qual das duas situações tenderá a melhorar as condições de vida dos portugueses
não comprometendo a solvência externa do país. No primeiro entendimento, o PS
deverá rejeitar a hipótese do acordo. No segundo entendimento, aderirá à
negociação e bater-se-á por condições de melhoria do ajustamento, sem as quais
não assinará o referido acordo. Ambas são opções democraticamente aceitáveis,
devendo explicitá-las claramente aos portugueses.
Entretanto e perante as
cenas dos próximos episódios, o governo permanecerá suspenso.
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