quarta-feira, 10 de julho de 2013

E AGORA ANTÓNIO JOSÉ?



O Presidente decidiu baralhar e dar de novo e as principais figuras do CDS ficaram suspensas dos desenvolvimentos da iniciativa presidencial não sabemos ainda por quanto tempo.
O meu amigo Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, parece ter impressionado o pensamento mais próximo do Presidente e o seu pensamento sobre o futuro pós junho de 2014 parece vaguear pelos corredores de Belém. Cavaco não está convencido da solidez anunciada pelos desenvolvimentos da negociação que terá ocorrido entre PSD e CDS, não se pronuncia sobre ela, o que face à copiosa cobertura que a mesma teve na comunicação social dos últimos dias pode ser lida como uma desautorização, sobretudo da orgânica de governação que foi passando pelas portas entreabertas dos gabinetes ministeriais. Rejeita eleições antecipadas nas condições atuais, invocando sobretudo a soberania e o dicktat antidemocráticos dos mercados financeiros (realismo dirão alguns), mas objetivamente não acredita que a maioria possa subsistir para além do termo do ajustamento e gerir o início do pós-TROIKA. Desenterra assim a necessidade imperiosa de um acordo a três, sob um modelo de compromisso de salvação nacional, referindo creio ter ouvido bem a possibilidade de uma personalidade nacionalmente credível poder ajudar os três partidos nessa negociação (quem? O governador do Banco de Portugal?).
Baralhou e tornou a dar. Está no seu direito e no âmbito das funções que desempenha. O que não significa exequibilidade da proposta. E estou certo que o ritmo cardíaco de António José Seguro voltou a subir, provocando-lhe uma arritmia que não é saudável, apesar da sua idade ainda bastante resguardada.
“E agora António José?” é um bom título para descrever a enorme pressão e responsabilidade que se abate de repente sobre o Partido Socialista e sobre as suas principais tendências, com comportamento diverso face à Presidência.
Para lá dos taticismos eleitorais de acesso mais ou menos rápido ao poder e nestas coisas há muita gente que começa a salivar antes do tempo (como eu os conheço e tenho assistido a esse salivar inquieto), o dilema de decisão a que o PS está submetido é o seguinte: (i) ou entende que o povo português e as suas condições de vida serão melhor defendidas com uma vitória do PS em eleições, podendo a partir daí gerir as alianças que os resultados determinarem como necessárias, pressupondo sempre que no poder, só ou acompanhado, será capaz junto das autoridades internacionais de conseguir um melhor equilíbrio entre contenção orçamental, proteção social e estímulos ao crescimento económico do que o anunciado; (ii) ou entende que, à boleia da iniciativa de Cavaco e mesmo sem ir para o Governo respeitando a sua democrática opção de não ir para o Governo sem eleições, consegue fazer infletir a orientação das autoridades internacionais, forçando-as desde já a condições de ajuda que viabilizem um equilíbrio mais saliente entre contenção orçamental, proteção social e estímulo ao crescimento e à competitividade, eventualmente respaldado por um amplo acordo de concertação social. A segunda opção tem a grande desvantagem de ser feita com companhias que não se desejam a ninguém e a quem não pode ingenuamente e sem cuidados dar-se boleia.
Não se trata de taticismos como a perfídia de alguns vai invocar para pressionar o PS. Trata-se de avaliar qual das duas situações tenderá a melhorar as condições de vida dos portugueses não comprometendo a solvência externa do país. No primeiro entendimento, o PS deverá rejeitar a hipótese do acordo. No segundo entendimento, aderirá à negociação e bater-se-á por condições de melhoria do ajustamento, sem as quais não assinará o referido acordo. Ambas são opções democraticamente aceitáveis, devendo explicitá-las claramente aos portugueses.
Entretanto e perante as cenas dos próximos episódios, o governo permanecerá suspenso.

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