sábado, 31 de outubro de 2015

DEUTSCHE-EURO


Veja-se no gráfico acima o que tem sido o boom exportador alemão desde que há moeda única: uma balança comercial que evolui de menos de 3% do PIB para um pico de cerca de 8% imediatamente antes da explosão da crise financeira internacional e que retoma em 2009 para chegar a 7,5% em 2014. Quem é que ainda se atreverá a duvidar que o Euro representou uma verdadeira bênção para a economia germânica?

ACORDOS DE GOVERNO E NÃO ACORDOS DE PROGRAMAS




(Apenas algumas ideias simples para combater a espuma destes dias)

Vai por aí algum alarido sobre a pretensa incoerência de um acordo de governo à esquerda, com apoio parlamentar proporcionado pela maioria também à esquerda que se formou na Assembleia da República a partir das eleições de 4 de outubro. E convém recordar que quanto votamos o fazemos para a assegurar uma dada composição parlamentar, até porque não controlamos a formação dos governos e muito teríamos que dizer sobre tal matéria.

Em primeiro lugar, permitam-me que explicite uma espécie de conflito de interesses. Na qualidade de simpatizante não militante do PS, que votou inclusivamente nas suas mais recentes eleições internas e que nunca procurou tirar dividendos desse facto, abandonaria rapidamente esse estatuto se o PS deixasse de ser uma força política com capacidade de dialogar e fazer acordos à esquerda e ao centro. E sublinho que a capacidade de dialogar e fazer acordos à esquerda terá sempre de ser ajustada em função da real vontade das forças políticas à esquerda do PS pretenderem algo de exequível. Por isso, não me reconheço naqueles que, como Francisco Assis, parecem ditar o anátema da conversação à esquerda e tornar a aproximação e debate ao centro como a única e exclusiva vocação do PS. Em meu entender, foi esta última convicção que tem determinado a deriva aparelhista do PS e com essa não há dúvida que convivo mal. Por isso, se algum dia o PS evoluir para essa exclusividade da aproximação ao centro haverá que zarpar noutras direções. E fazê-lo com a também convicção de que o PS não durará muito nessa orientação.

Concretizado este esclarecimento há que denunciar a profunda hipocrisia dos que sustentam a contra-natureza de um possível acordo de governo à esquerda, segundo o modelo de que o PS governa e tem o apoio parlamentar da esquerda com base num conjunto determinado de pontos que conheceremos nos próximos dias, e que espero que não me desiluda. O argumento dessa hipocrisia é que o PCP e o Bloco de Esquerda assentam em bases programáticas incompatíveis com os princípios em que o programa histórico do PS está estruturado. Ora esse argumento é uma completa falácia. Acordos de governo não representam sínteses de programas de governo diferenciados. Os acordos de governo concretizam-se em função de um conjunto de princípios que as forças políticas em negociação avaliam se representam efetivamente propostas reconhecíveis pelos eleitores que determinaram a composição parlamentar à luz da qual o acordo é firmado. Cabe às forças políticas em negociação se os seus programas são ou não compatíveis com o acordo firmado. Tem Pacheco Pereira razão quando afirma que o acordo deve ser feito de prioridades claras, objetivas e sobre as quais não subsista qualquer dúvida sobre a convergência política em torno delas operada. E de facto a clivagem entre “quem apoia e quem não apoia a governação anterior na sua possível continuidade” é de facto uma clivagem muito mais clara e efetiva do que aquela que Cavaco procura encontrar no eleitorado com a relação PSD-CDS–PS entendida como o bloco de apoio à integração europeia sufragado pelo ato eleitoral de 4 de outubro.

A hipocrisia é enorme. A clivagem “apoiar ou não apoiar a continuidade da governação anterior” é objetiva e percebida por todos os portugueses, apesar de toda a ocultação de situação económica realizada no último ano de governação. A clivagem pela União Europeia é frouxa. É frouxa porque muitos dos que votaram PS fizeram-no com uma perspetiva crítica em relação ao processo de construção europeia e ao peso desmedido dos seus diretórios, pouco propensos ao escrutínio democrático. E fizeram-no sabendo que a maioria que nos governou não revelou qualquer capacidade ou interesse real em criticar as derivas da construção europeia, retratado no agachamento de Vítor Gaspar em relação a Schäuble e a todas as mordomias acríticas da governação face ao  dictat do TINA.

Cabe essencialmente ao PCP e ao Bloco de Esquerda se o acordo parlamentar que vão viabilizar é coerente com a ação política que, em plena autonomia, pretendem levar a cabo. Ao PS cabe sobretudo avaliar se consegue encaixar no seu programa de governação as exigências de tais partidos e avaliar se isso é compatível com uma outra maneira de conjugar consolidação orçamental e uma outra forma de encarar a austeridade. É fácil o equilíbrio entre estas posições? Certamente que não e isso explica que só agora se tenha produzido esta aproximação. O que prova a força do contexto e da mudança das condições objetivas em que a ação política se inscreve. É sobretudo difícil porque conhecemos a fragilidade da construção do Euro e os efeitos maléficos que este inacabado edifício. Esperemos que a evolução da situação económica não conduza o PCP e o Bloco de Esquerda a intuírem que o constrangimento do regime do Euro se torna demasiado impeditivo.

Com a hipótese deste acordo de governação de base parlamentar a situação política nacional ganha flexibilidade e combate a sua cristalização em torno da ideia do arco da governação. Espero com curiosidade a versão concreta do acordo para avaliar se de facto se trata de um conjunto de princípios que resistam à mínima turbulência.

E já agora convinha perguntar ao presidente da República se entre o velho programa social-democrata do PSD e a governação concretizada por Passos Coelho há alguma aproximação.

PROVAVELMENTE O MELHOR JOGO DE SEMPRE



É na tarde de hoje no mítico Twickenham, com o picante adicional de uma saudável rivalidade continental (oceânica no caso), um confronto que poderá vir a ficar imortalizado na história do râguebi mundial. A disputa entre Austrália e Nova Zelândia, que tem sido toda a semana objeto de sadias farpas recíprocas nas primeiras páginas dos grandes jornais locais (vejam-se alguns exemplos provocatórios e bem humorados imediatamente abaixo), terá múltiplos atrativos específicos (como os das prestações individuais do especialista em penalidades australiano Bernard Foley, por isso também conhecido como “Iceman”, ou do portentoso atleta veterano neozelandês Dan Carter) e irá acabar com a consagração enquanto campeões do mundo dos “Wallabies” ou dos “All Blacks”, após um torneio longo, esgotante e emocionante que teve momentos inesquecíveis e umas meias-finais em que a África do Sul e a Argentina marcaram uma presença altamente condigna (imagens mais abaixo) e a Europa esteve pela primeira vez completamente ausente dos grandes palcos (também aqui!). Se puderem, não percam “o combate dos chefes porque será seguramente prazer em caixa...



sexta-feira, 30 de outubro de 2015

MERKEL EM APUROS?


Em tempo, e por falar em Alemanha, valerá a pena sublinhar que as coisas parecem por lá mal paradas para uma Merkel em notória perda de popularidade e no seio da coligação (CDU/CSU) que comanda a “grande coligação”. Quanto à primeira componente, basta atentar no gráfico seguinte: desde início de agosto até ao presente, i.e., em menos de três menos, as intenções de voto na dupla CDU/CSU caíram 8% (de 43% para 35%) por contrapartida essencial de uma subida de 5,5% do AfD (Alternative für Deutschland), um partido em transição acelerada de um posicionamento centralmente eurocético para um foco eminentemente anti-imigração, e com o apoio ao SPD a manter-se rigorosamente inalterado.


Neste quadro, Merkel estará entre dois fogos, ambos internos à sua área política: o ambicioso Schäuble, que ainda não terá desistido de vir a ocupar o posto de chanceler, e o líder do partido irmão bávaro, um estranhíssimo Horst Seehofer que começa a emergir como o principal rosto de alguma oposição em face da chocante atuação de um SPD paralisado e inofensivo em termos de apresentação de uma agenda alternativa mínima. Seehofer já há dias veio propor o fecho das fronteiras alemãs aos refugiados, salientando mesmo estar convencido de que tal proposta seria maioritária junto dos parlamentares CDU/CSU. Estará este cromo a fazer o trabalho sujo para abrir caminho a uma triunfante entrada de Schäuble?