(André Carrilho, http://www.dn.pt)
Não foram propriamente umas afirmações inéditas ou surpreendentes as de José Pacheco Pereira (JPP) na última “Quadratura do Círculo” a propósito do PCP. Mas a nervoseira do momento que por cá se vai vivendo justificará que as registemos e assim aconselhemos alguns compatriotas a delas tomarem devida nota.
Relevo dois tópicos. O primeiro tem a ver com a questão da persistente representação do Partido em Portugal, implodida que foi a União Soviética. Assim disse JPP: “Eu passei uma parte importante da minha vida a estudar o PCP. E a maioria das coisas que se dizem aí do PCP são, com franqueza... Ou as pessoas ficaram no anticomunismo de 75 – que não é necessariamente o melhor, há outros anticomunismos que são um pouco melhores do que o de 75 – e continuam a ver o Partido Comunista Português depois da queda da União Soviética como ele era antes; aquilo que tornava o Partido Comunista Português, do ponto de vista nacional subversivo, era essencialmente o facto dele funcionar como uma espécie de delegação da política externa soviética, e era isso que tornava a questão da NATO vital. Depois da queda do Muro, o Partido Comunista Português sobreviveu, como poucos partidos comunistas, porque tinha uma base nacional, se quisermos tinha setores da sociedade portuguesa que não têm outro instrumento de representação. Se você for um trabalhador rural, com uma idade já considerável, numa aldeia desertificada do Alentejo, com muito pequena escolaridade, que não tem praticamente nenhum trabalho a não ser formas de subemprego geradas pela câmara municipal, que é o que permite que as pessoas não morram propriamente à fome, é evidente que essas pessoas criam um elo com o Partido que lhes dá, de alguma maneira, as condições mínimas de sobrevivência. E a força quer do Partido quer através da CGTP, a razão porque o Partido Comunista tem um peso importante na vida política portuguesa é em grande parte porque ele representa portugueses que não têm outro tipo de representação.”
Um segundo tópico está associado à situação política que estamos a atravessar e recorre a ensinamentos histórico-políticos básicos para adequadamente a enquadrar, fantasmas e papões à parte bem entendido. O que JPP exprimiu nestes termos: “O Partido Comunista Português, como o Bloco de Esquerda, têm uma tradição para fazer este acordo. As pessoas dizem: ‘ah, abandonam os seus princípios’. Talvez seja bom ter em conta que o grande debate sobre a social-democracia alemã no início do século, que aliás separou os reformistas dos revolucionários, era a separação entre o programa mínimo e o programa máximo. E uma das grandes coisas que permitiu uma tradição reformista no movimento socialista é a assunção de que, em determinadas circunstâncias, há programas mínimos e esses programas mínimos não implicam o programa máximo, que era a revolução, em última instância. E foi exatamente o facto de, na tradição dos partidos socialistas, haver programas mínimos que permitiu, por exemplo, algumas alianças do Partido Comunista Francês com o Partido Socialista Francês e que permite um acordo desta natureza. Um acordo desta natureza é um típico acordo de programa mínimo: não impede o Partido Comunista de falar contra a NATO, não impede o Bloco de Esquerda de falar da reestruturação da dívida, sem que isso signifique uma dificuldade para o governo. É um programa mínimo. Eles querem meia-dúzia de coisas: vamos ver quais coisas, mas a maioria dessas coisas muito provavelmente são exequíveis com um programa do género do PS.”
As letras clarificam, as tretas confundem...
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