A economia e a sociedade europeias têm vindo a ser confrontadas de modo permanente, mas sobretudo ao longo dos últimos e difíceis anos de crise, com uma espécie de corrida atrás do prejuízo. Os diversos episódios que foram ocorrendo no interior da Zona Euro, largamente incendiados pelo acordo transgressor que foi combinado em Deauville por Merkel e Sarkozy e culminando na tristíssima gestão do caso grego, são disso uma manifestação mais que cristalina. No momento atual, e tendo a nem sempre bem recebida intervenção de Draghi contribuído muito fortemente para uma aparente ultrapassagem dos problemas que persistem na verdade por resolver, o foco deslocou-se para a necessidade de enfrentar os mais candentes desafios externos em presença, designadamente e a saber as dificuldades de múltipla ordem que começam a emergir em proveniência da China (sobretudo a desaceleração do crescimento e o notório agravamento dos indicadores financeiros) e a nova fase dos equilíbrios macroeconómicos globais que começa a desenhar-se com a mais que previsível subida próxima das taxas de juro americanas.
Não obstante, insisto na necessidade de olharmos para a realidade da construção europeia mais de perto. Sobretudo na medida em que dos termos desse olhar possam resultar consequências decisivas para a sobrevivência futura da União Europeia (UE), quer enquanto entidade capaz de preservar a unidade e coesão que significativamente viabilizam a sua força económica e social diferenciadora quer enquanto bloco regional capaz de continuar a desempenhar um papel ativo e marcante à escala global. Identifico, a este nível, quatro tópicos cruciais.
O primeiro desses tópicos tem a ver com a presente crise dos refugiados. Uma matéria que aqui temos sucessivamente referenciado e que não cessa de revelar a funesta pujança da Europa dos egoísmos nacionais que desesperantemente nos envolve e domina.
(Ilias Makris, http://www.kathimerini.gr)
(Michael Kontouris, http://www.efsyn.gr)
Limitando-me a remeter os leitores para as (in)felizes e elucidativas sínteses traduzidas pelas três imagens precedentes, aproveito todavia a ocasião para três apontamentos adicionais sobre a matéria (imagens abaixo). Os mais sérios e reveladores de entre eles provêm, por um lado, da vaga de construção de muros fronteiriços com que os países desta Europa vão fingindo reagir a este brutal afluxo de pessoas (agora já é a Áustria e parece que também será a Eslovénia) e, por outro lado, de uma recentíssima sondagem realizada junto de cidadãos de sete países europeus pela empresa IFOP (sob encomenda da Fundação Jean Jaurès e da FEEP, Fundação Europeia de Estudos Progressistas), a qual não apenas ilustra quão divididas estão as opiniões públicas europeias em relação ao tema como também a gravidade da deriva pró-policial e anti-solidária que crescentemente se vai observando em alguns países simbólicos e determinantes (França e Reino Unido, sobretudo); não obstante, é possível também constatar que as ideias de uma desresponsabilização da Europa ou do seu estrito fechamento ainda estão longe de terem invadido a maioria das mentes interrogadas. Uma última nota, mais ligeira e assente na hiperbólica vinheta que encerra este post, traduz-se no sublinhado daquela que já é visivelmente uma das grandes impotências, a alemã, que emergiram na gestão deste processo: de facto, a genética do povo germânico não o terá manifestamente brindado com uma eficaz capacitação para responder a contextos críticos como os que se vão vivendo na Europa Central e uma tal realidade já começa a fazer sentir os seus efeitos – se fosse uma mera questão de estruturar e por em ordem...
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