(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)
(António, http://expresso.sapo.pt)
Parece que Maria de Belém Roseira (MBR) quer muito ser candidata à Presidência da República, mesmo à falta de já dificilmente conseguir vir a ocupar realmente a função associada ao palácio seu homónimo. Vai dizê-lo hoje aos portugueses em cerimónia pública e talvez então explicar as motivações que possam existir para além das estritamente pessoais. Registaremos alguma novidade, se for o caso.
MBR é bastante mais uma pessoa estimável do que uma política de visão. Passou inicialmente (1984) pela política enquanto chefe de gabinete do ministro da Saúde do governo do Bloco Central (Maldonado Gonelha), mas foi Guterres que a introduziu mais ativamente nessas andanças como ministra da Saúde do seu primeiro governo (1995/99), vinda sucessivamente da administração da Teledifusão de Macau, da vice-provedoria da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e da administração do Centro Regional de Lisboa do IPO. E dado o passo iniciático, MBR não mais cessou de se envolver, revelando dotes raros em termos de sedução/negociação, de estabelecimento e exploração de redes e de capacidade de luta e sobrevivência – o que, não sendo qualidades menores nem desprezíveis, também não a qualificariam de modo óbvio para os voos que foi ambicionando e alcançando.
O primeiro momento em que MBR visivelmente deixou clara a irredutibilidade das suas ambições políticas, utilizando em benefício próprio a força das suas ligações católicas e ao lóbi da solidariedade social terá sido em 1999, aquando da formação do segundo governo de Guterres de que parecia completamente afastada mas onde acabaria por conseguir a consolação de um esvaziado Ministério da Igualdade. Muitas voltas depois, nelas se incluindo um exercício parlamentar meritório e um apoio contraditório mas amigo à candidatura presidencial de Alegre, o grande momento de MBR terá residido na forma hábil como colou a Seguro e se insinuou ao ponto de lograr ser nomeada presidente do PS por alma sabe-se lá de quê (sim, porque ser presidente do PS, não significando um grande poder de facto, corresponde a um poder simbólico que deveria exigir um currículo político e partidário mais justificativo ou mais próximo de um prémio de carreira).
Tendo assistido impávida a António Costa, a várias personalidades relevantes do PS (com Soares e Sampaio à cabeça) e à atual direção do PS manifestarem apoios à candidatura presidencial de Nóvoa apresentada em abril, MBR esperou teimosamente pela sua oportunidade. Entendeu-a chegada no Verão, quando percebeu que Costa não venceria facilmente as legislativas e ficaria assim com as mãos menos livres para a contrariar. Acelerou então o seu trabalho de formiguinha, deu sinais de um distanciamento face à direção do PS e surge agora como um troféu federador da ala moderada e oposicionista do partido (ornamentada com flores tão politicamente bem intencionadas quanto tontas e autocentradas como o são, designadamente, Manuel Alegre e Ana Gomes) – e esse será, muito provavelmente, o destino que a pequena história lhe reservou: o de poder assistir em lugar especialmente honroso à posse de Marcelo e, sobretudo, o de ser instrumento e sustentação de uma cisão no PS. Se grave ou clarificadora e abençoada, só o futuro dirá...
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