quinta-feira, 31 de maio de 2012

EUROPA ILUSTRADA (V)

Com a devida vénia aos autores e aos jornais de publicação, aqui fica a síntese ilustrada de um fértil Maio europeu, iniciado numa expectativa assustada quanto ao seu sétimo dia franco-grego (JAS, James Sillavan em “The Economist”, http://www.economist.com) e subsequentemente marcado pela avassaladora sucessão de acontecimentos que abaixo se enunciam.



1.  Primeiro, o “au revoir” ao nosso estimado “petit Nicolas” (Jean Plantu em “Le Monde”, http://www.lemonde.fr) e os esforços falhados para a constituição de um governo na Grécia (o indiano Nash Paresh em “Khaleej Times”, http://www.khaleejtimes.com).




2.  Depois, o confronto de Hollande com a dura realidade merkeliana (Steve Bell em “The Guardian”, http://www.guardian.co.uk) e do povo grego com as inesperadas consequências das suas escolhas democráticas (Peter Schrank em “The Independent”, http://www.independent.co.uk).




3.  Em seguida, toda uma parafernália em torno de agendas adiadas de crescimento mundial e europeu (o croata Petar Pismestrovic em “Kleine Zeitung”, http://www.kleinezeitung.at e Peter Schrank em “The Economist”, http://www.economist.com) em contraposição à dureza da austeridade reinante (Tom Janssen em “Trouw”, Amsterdão, http://www.trouw.nl).





4.  Em continuação, a viragem do foco dos mercados para uma Espanha em crescente fragilização financeira (Patrick Blower em “The Telegraph”, http://www.telegraph.co.uk e Kipper Williams em “The Guardian”, http://www.guardian.co.uk).




5.  A concluir, a permanência de uma inquietante ausência de rumo político (Christian Adams em “The Telegraph”, http://www.telegraph.co.uk) em contraste com a crescente veiculação da ideia de que, no Euro, “não cabemos todos” (Bernardo Erlich em “El País”, http://www.elpais.com) e dos enormes riscos de contágio em presença (o romeno Pavel Constantin em NRC Handelsblad”, http://www.nrc.nl).



SÓ PARA MARCAR VEZ...


Não terá muito a ver, mas passou-me pela cabeça o título de um filme de há anos (“O Cozinheiro, o Ladrão, a Sua Mulher e o Amante Dela”) ao ouvir o José Gomes Ferreira falar de PPP, alguns políticos, muitas entidades bancárias e vários interesses privados (construtoras, consultoras, gabinetes de advocacia, designadamente). Mas, para sermos rigorosos, ainda nos falta inserir o Tribunal de Contas no script…

CURTO E GROSSO


O mês termina com Mario Draghi a falar mais claro que nunca. Disse:
·         “Pode o BCE preencher o vazio da falta de ação dos governos em termos orçamentais? A resposta é não. Não é nosso dever, não está no nosso mandato.”
·         “O próximo passo é basicamente para os nossos líderes clarificarem realmente qual é a visão daqui a uns anos. Como vai estar o euro? Quanto mais cedo isto for esclarecido, melhor.”
·         “Ele [um nadador que tenta atravessar o rio] continua a lutar mas não vê o outro lado do rio porque está nevoeiro, e o que estamos a pedir hoje é para se dissolver esse nevoeiro. As correntes vão continuar fortes, os ventos vão continuar fortes mas pelo menos vê-se o que nos espera no final.”
·         “A configuração que tínhamos há dez anos, que foi sempre basicamente considerada sustentável, revela-se agora insustentável a não ser que medidas adicionais sejam adotadas.”

Junho vai ser um mês interessante. Se não for trágico…

A UTAO JUSTIFICA-SE


UTAO diz que défice orçamental poderá ter ficado nos 7,4% no 1º trimestre”
A Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) que funciona junto do Parlamento não tem tido vida fácil desde a sua entrada em funcionamento. Não raras vezes tem sido utilizada, a maior parte das vezes não a Unidade propriamente dita mas mais os resultados da sua intervenção, como arma de arremesso e como instrumento de oposição ao Governo, qualquer que ele seja.
Esta semana, corrigindo a vetusta Direção Geral do Orçamento (tudo parece acontecer a este Ministério das Finanças), a UTAO veio identificar um lapso aparentemente inconcebível do último relatório mensal de execução orçamental. A DGO tinha subavaliado seriamente a queda da receita fiscal, com erro de imputação de uma rubrica relacionada com os impostos indiretos.
Para além do problema central que está aqui implícito nesta questão, que é a crescente incapacidade de controlo da receita fiscal por parte das autoridades governamentais, o episódio sugere-me outra reflexão.
Embora os trabalhos de análise da UTAO tendam a ser objeto de instrumentalização e debate políticos, a atividade desta Unidade deveria estar ao serviço de um objetivo bem mais nobre que seria o de produzir informação de interpretação útil do estado das contas públicas e das condições de execução orçamental. Seria um serviço de cidadania de elevado interesse, pois a opacidade dos documentos de execução orçamental para o cidadão comum constitui fator de desinformação democrática. E, como o fenómeno da captura do Estado que as mais recentes informações sobre as Parcerias Público-Privadas têm evidenciado, é cada vez mais premente uma informação transparente para o cidadão sobre o estado das contas públicas.
De mal-amada, incómoda ou simplesmente instrumental à medida das nossas preocupações, a UTAO poderia transformar-se num serviço de apoio à transparência pública.

JURO

Hoje recebi uma sms de um velho conhecido. Nada a ver com espionagem ou nomes para altos cargos, apenas um simples pedido de esclarecimento. Que presto com o maior gosto, socorrendo-me de um gráfico ontem apresentado numa peça da TVI sobre o comportamento dos juros da dívida pública espanhola e alemã ao longo do último ano. Não resulta assim clara a diferença entre juro e prémio de risco, respetivamente apresentados em termos de taxas e de pontos básicos?


Aproveito a oportunidade para chamar a atenção para mais dois aspetos absolutamente marcantes:
·         a forte evolução temporal descendente do rendimento associado às obrigações alemãs – o que resulta cristalino no gráfico de maior prazo (1990-2012) reproduzido do “Financial Times” (ver abaixo) e já levou Krugman a ironizar no sentido de que deveríamos ir a Tóquio apresentar desculpas ao imperador japonês quanto ao que fomos dizendo sobre a sua “década perdida”;
·         o modo como o mesmo “Financial Times” ontem media em dias pós-500 pontos básicos o “countdown” para um resgate espanhol que vai parecendo cada vez menos evitável.


DUDU


Está em exclusivo na “Veja” desta semana (http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/eduardo-saverin-o-brasileiro-do-facebook-conta-sua-historia#) e vale a pena passar os olhos. Até porque, como refere o sócio número 2 do “Facebook” (Eduardo Saverin, vulgo Dudu) sobre o filme “A Rede Social”, “aquilo é Hollywood, não é documentário”...

TRANSATLANTIC NEWS

(ilustração de Adams em http://www.telegraph.co.uk)

Após assegurar a sua indicação como candidato republicano, Mitt Romney intensifica os seus ataques contra Obama

COM OU SEM RODEIOS?


Ontem foi dia de apresentação pela Comissão Europeia das recomendações de política económica para cada um dos 27 membros da União Europeia, no âmbito do chamado "semestre europeu" e com base nos programas de estabilidade e convergência enviados por cada estado-membro.


No que nos diz respeito, coube ao inefável Ohli Rehn a função de dirigir a orquestra burocrática em conferência de imprensa. Assim falaram:
  • Portugal está a progredir em várias frentes (nomeadamente, “ze Portugueze economyze is in fact experiencingue a quite goode export growze…”);
  • os estados-membros devem tomar medidas para baixar os níveis inaceitavelmente elevados de desemprego jovem;
  • é de importância crucial a adoção de reformas nos mercados do trabalho e de produtos, com vista a reduzir os custos do trabalho, aumentar a flexibilidade, reduzir as barreiras à entrada e acabar com os lucros excessivos;
  • a duração máxima do subsídio de desemprego continua a ser longa demais;
  • será necessário tomar medidas significativas adicionais para tornar sustentável a dívida crescente do sistema de eletricidade, através da correção dos lucros excessivos ligados à produção de energia;
  • o Governo deve apresentar urgentemente um plano para o pagamento das dívidas em atraso das empresas do setor público e deve ir mais longe na reforma do financiamento local e regional.


Sempre atento, Álvaro veio de imediato à liça, queixando-se de que a Comissão Europeia não tomou em conta muitas das reformas já implementadas pelo Governo. Assim falou: “Nos últimos meses, o Governo português juntamente com os parceiros sociais não só assinaram o acordo de concertação social mas também trabalharam para implementar essas reformas que menciona. E, portanto, algumas das reformas que estão mencionadas nesse relatório já estão no terreno. E, portanto, obviamente, iremos ter um mercado de trabalho mais flexível, iremos flexibilizar a contratação, iremos dinamizar o mercado de trabalho para conseguir atrair e contratar cada vez mais jovens e cada vez mais pessoas e trabalhadores e combater a principal chaga social que existe neste momento, que é o desemprego.”

Já o JN de hoje é mais pragmático e, sem rodriguinhos, vai direto ao assunto:

PEEP-SHOW

Esgotou-se a pachorra para o caso Relvas. Valha-nos o “zapping”! exclama o cidadão. Pessoalmente, e uma vez que o resto do que releva caberia à Justiça, cinjo-me a três apontamentos para exclusiva memória de futuros que hão de ir chegando e talvez mereçam uma espreitadela:
1.       Carlos Magno há de apresentar conclusões da inquirição da ERC;
2.       Adelino Cunha há de ser certamente um nome a fixar e seguir;
3.       a RTP há de ser para alguém?



LUSO-DIPLOMACIA XXI

O Presidente está de volta ao seu “lindo torrão lusitano”. Após um notável périplo de mais de 40 mil quilómetros na procura de espalhar alguma boa nova (“whatever…”). À sua, e do casal Mariani, muito própria maneira!


Em termos económicos, não será por falta de súplica que não haverá mais investidores asiáticos por cá, não será por falta de exortação que não alcançaremos um milhão de contentores em Sines, não será por falta de sinergias que a nossa cortiça não beneficiará do sucesso do vinho australiano, não será por falta de convicção que a Europa não ultrapassará os seus atuais problemas…








Já em termos menos economicistas, vegetais p.e., os resultados alcançados foram bem mais concretos e deixaram mesmo para a posteridade um sobreiro duramente plantado pelo casal em Camberra e uma nova e cheirosa orquídea – em boa hora batizada de “Maria Cavaco Silva” – a embelezar doravante o Jardim Botânico de Singapura…




Louvem-se o sentido de missão e a persistência da ação. Ressalvem-se a ingenuidade e o deslumbramento. Quanto aos momentos felizes, entenda-se que eles mal serviram de compensação para os sacrifícios… 

quarta-feira, 30 de maio de 2012

É O QUÊ?



E um país que, diretamente afetado pela enorme gravidade da crise europeia que o envolve e cercado pela incomensurável turbulência que assola o seu vizinho espanhol, tem o seu mais alto dignitário entretido na sonhada viagem de toda uma vida (veja-se o casal fruindo da baía de Sidney em momento “para mais tarde recordar”) e o seu maior responsável executivo optando por um tema de espiões para o seu debate quinzenal no Parlamento (mesmo que de tal se vangloriando ou apenas “porque estava entalado”) é o quê?

UM MINHO TOLERANTE


Por estes dias, passou pelos jornais e pelas televisões uma manifestação de tolerância, neste caso religiosa, que nos tempos que correm é de registar.
Na freguesia de Santa Maria Maior, em Viana do Castelo, uma igreja praticamente abandonada, talvez por questões demográficas, ou pela mais complexa relação entre a demografia e o número de novas vocações sacerdotais, foi disponibilizada para que a comunidade de leste (ucraniana, moldava, romena, pelo menos) a utilizasse como sede de culto da igreja ortodoxa.
Como resultado prático do esforço de toda essa comunidade, a igreja virou ortodoxa, foi preservada e um padre ucraniano, residente na Galiza vizinha, assegura com regularidade os atos religiosos (uma nova dimensão do transfronteiriço que me tinha escapado).
A reportagem televisiva registou com pormenor as reações da comunidade. Num português quase perfeito, com aquele delicioso sotaque do leste europeu, todos os intervenientes registaram com agrado a recetividade da sociedade local, o sentido de comunidade que os une e o prazer da experiência coletiva.
Num Minho que nem sempre é tolerante, pelo menos à primeira impressão, este ato de tolerância religiosa marca bem um potencial que a sociedade portuguesa apresenta apesar dos números devastadores do desemprego. Aliás, com o espectro demográfico que apresentamos para os próximos vinte anos, a recuperação também passará pela nossa capacidade de acolhimento, integração e convivência com outras culturas, religiões e valores. E marca bem o nosso papel na Europa alargada.