Este foi o ano em que os comentadores europeus e nacionais descobriram Paul Krugman (acima caricaturado por Ferguson em http://www.ft.com, sendo que o próprio não se revê na cor dos olhos). Mesmo sabendo que ele fora já o Nobel da Economia em 2008, nunca tantos o usaram tanto e sob tantos pretextos. Sendo que o notável economista que ele é nem sempre consegue disfarçar a desfocagem de que por vezes enferma o seu olhar relativamente às questões europeias. Para não falar das ingenuidades políticas em que, talvez fruto da sua tradição político-cultural de origem, se deixa inexplicavelmente cair.
Por estes dias, Krugman falou em discurso direto ao “Der Spiegel” (entrevista) e ao “Financial Times” (almoço com Martin Wolf). Duas peças cheias de conteúdo, aqui e ali refutável por algum excesso de “deformação ideológico-profissional”. Sobre os temas do momento, disse:
- “o que acontece se a Grécia sair? Então teremos outra vez uma corrida aos bancos nos outros paises periféricos (…) Mas, de novo, tal pode ser contido com empréstimos do BCE. O que tem de acontecer é que o BCE tem de estar disposto a substituir todos os Euros retirados que for necessário”, caso que considera facilitado na medida em que os gregos foram realmente irresponsáveis e tal não ocorreu com a Espanha, Portugal e Itália (“nenhum fez nada errado no plano oficial”);
- “uma dessas duas coisas impossíveis [aumentos da exposição do BCE ou explosão do Euro] vai acontecer”;
- “se você for o primeiro-ministro de um pequeno país europeu, até de um relativamente grande como a Espanha, (…) as suas opções são ter alguma forma de austeridade, possivelmente enquanto protesta, ou simplesmente abandonar o euro”;
- “mas Frankfurt e Berlim têm escolhas”,referindo-se a uma “luz verde ao BCE” para “mais 3% de inflação nos próximos cinco anos” e “crédito aberto a governos e bancos”, no primeiro caso, e a não dever ser feita austeridade na Alemanha, no segundo;
- “uma pistola de água contra um rinoceronte a carregar”, assim define os programas de crescimento em discussão na Europa;
- “neste momento, precisamos de expansão”ou “este é o tempo para défices enormes, não mais tarde” ou “não se pode cortar agora; há um fogo e precisamos de verter tanta água quanto possível sobre ele; preocupemo-nos com a reconstrução depois”.
Assuntos para retomar, explorar e debater. Como, também, a “maravilhosa sátira” com que terminou aquele almoço: “Lembro-me de que havia uma coluna humorística no ‘Independent’, terá sido em 1992 ou por aí, sobre a decisão de atribuir o ‘Booker Prize’ ao Tratado de Maastricht – um romance pós-moderno em forma estrita de tratado. E ao longo de todo o romance sentem-se, como pano de fundo, forças poderosas com motivações desconhecidas. Quem são essas forças, o que querem elas? Nunca aprendemos.”
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