O gráfico acima, de autoria do economista francês Olivier Berruyer, descreve o comportamento do ritmo médio de crescimento anual do
produto interno per capita da economia francesa durante as últimas décadas. O
seu comentário tinha por base o documento de apoio ao agora Presidente Hollande
que o Le Monde publicara em 17 de Abril de 2012 e que tinha a curiosidade
inesperada de ter como primeiro subscritor um economista de Harvard, bastante
prestigiado na teoria do crescimento e nos modelos de crescimento endógeno
Philippe Aghion. Aliás, Aghion publicara em 2011 nas Éditions du Seuil, em
colaboração com Alexandra Roulet, uma pequena obra “Repenser l’État – Pour une
social-démocratie de l’innovation”, que já anunciava o seu propósito de contribuir
para uma alternativa de governação modernizadora.
Mas o que o gráfico de Berruyer sugere é a intensidade do
desafio de Hollande no plano interno, que consiste em inverter uma tendência de
continuado declínio do crescimento económico médio per capita.
E certamente, quaisquer que venham a ser as audácias
programáticas de Hollande, esse esforço será sempre indissociável da solução
europeia.
Ora, com Mário Soares à cabeça, a precipitação gerada
pela nova relação de forças que a eleição de Hollande e a embrulhada grega pós-eleitoral
provocaram pode custar caro. Na verdade, não haverá solução estável de
crescimento se a zona euro não for capaz de colocar a crise das dívidas
soberanas em ponto de resolução. Não se observa qualquer sinal consistente de
que os mercados financeiros tenham sancionado as políticas de austeridade,
aliviando significativamente a pressão dos juros da dívida. Assim sendo, tal como muito pragmaticamente Münchau assinala na sua última crónica no FinancialTimes, a solução estará sempre numa utilização consistente e reforçada do
Mecanismo Europeu de Estabilidade e outros fundos de resgate (com não pagamento
de países em dificuldades) e em processos associados de monetarização da dívida
para compensar os países contribuintes líquidos para esses fundos.
Discutir os termos de uma agenda de crescimento que não
se limite de novo ao blá-blá dos benefícios do mercado interno, que contenha
uma dimensão distributiva inequívoca, não perca de vista as metas de qualificação
da população europeia e minimize o limiar atual do desemprego é seguramente uma
prioridade. Essa agenda acabará por demonstrar a impossibilidade prática de
concretização do pacto fiscal e determinar a sua revisão. Mas colocar a crise
das dívidas soberanas numa trajetória de resolução será fundamental para
proporcionar um contexto favorável a essa agenda. Tenho dúvidas se a liderança
política alemã terá flexibilidade suficiente para compreender os termos da
equação. Parece que voltamos à estaca zero, mas agora com nova relação de
forças no plano político e sobretudo com a evidência de que a democracia
europeia não aguentará por muito mais tempo esta incapacidade de perceber qual é
a verdadeira equação a resolver.
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