terça-feira, 8 de maio de 2012

OS DESAFIOS DE HOLLANDE



O gráfico acima, de autoria do economista francês Olivier Berruyer, descreve o comportamento do ritmo médio de crescimento anual do produto interno per capita da economia francesa durante as últimas décadas. O seu comentário tinha por base o documento de apoio ao agora Presidente Hollande que o Le Monde publicara em 17 de Abril de 2012 e que tinha a curiosidade inesperada de ter como primeiro subscritor um economista de Harvard, bastante prestigiado na teoria do crescimento e nos modelos de crescimento endógeno Philippe Aghion. Aliás, Aghion publicara em 2011 nas Éditions du Seuil, em colaboração com Alexandra Roulet, uma pequena obra “Repenser l’État – Pour une social-démocratie de l’innovation”, que já anunciava o seu propósito de contribuir para uma alternativa de governação modernizadora.
Mas o que o gráfico de Berruyer sugere é a intensidade do desafio de Hollande no plano interno, que consiste em inverter uma tendência de continuado declínio do crescimento económico médio per capita.
E certamente, quaisquer que venham a ser as audácias programáticas de Hollande, esse esforço será sempre indissociável da solução europeia.
Ora, com Mário Soares à cabeça, a precipitação gerada pela nova relação de forças que a eleição de Hollande e a embrulhada grega pós-eleitoral provocaram pode custar caro. Na verdade, não haverá solução estável de crescimento se a zona euro não for capaz de colocar a crise das dívidas soberanas em ponto de resolução. Não se observa qualquer sinal consistente de que os mercados financeiros tenham sancionado as políticas de austeridade, aliviando significativamente a pressão dos juros da dívida. Assim sendo, tal como muito pragmaticamente Münchau assinala na sua última crónica no FinancialTimes, a solução estará sempre numa utilização consistente e reforçada do Mecanismo Europeu de Estabilidade e outros fundos de resgate (com não pagamento de países em dificuldades) e em processos associados de monetarização da dívida para compensar os países contribuintes líquidos para esses fundos.
Discutir os termos de uma agenda de crescimento que não se limite de novo ao blá-blá dos benefícios do mercado interno, que contenha uma dimensão distributiva inequívoca, não perca de vista as metas de qualificação da população europeia e minimize o limiar atual do desemprego é seguramente uma prioridade. Essa agenda acabará por demonstrar a impossibilidade prática de concretização do pacto fiscal e determinar a sua revisão. Mas colocar a crise das dívidas soberanas numa trajetória de resolução será fundamental para proporcionar um contexto favorável a essa agenda. Tenho dúvidas se a liderança política alemã terá flexibilidade suficiente para compreender os termos da equação. Parece que voltamos à estaca zero, mas agora com nova relação de forças no plano político e sobretudo com a evidência de que a democracia europeia não aguentará por muito mais tempo esta incapacidade de perceber qual é a verdadeira equação a resolver.

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