Merkel tornou-se uma política experiente e pragmática. Como ainda recentemente se provou com o modo como lidou com a substituição de Sarkozy por Hollande, com o fim do diretório franco-alemão e com a subsequente perda de protagonismo e relativo isolamento de que foi alvo durante a Cimeira Informal de Bruxelas (ver as ilustrações acima de Phil Disley em “The Independent”, Londres, http://www.independent.co.uk e de Tom Janssen em “Trouw”, Amsterdão, http://www.trouw.nl). A fazer fé nas notícias dos jornais alemães destes dias, prepara agora a sua contra-ofensiva através de um “Six-Point Growth Plan” com que alegadamente se apresentará nos próximos “rounds” europeus, na procura de uma adaptação estruturada aos novos equilíbrios necessários – harmonização entre austeridade e crescimento – que possa fazer vingar formas alternativas às propostas mais gravosas do ponto de vista germânico (“euro-bonds”, que vai sublinhando não serem geradores de crescimento, e mudança dos estatutos do BCE).
Diz-se que tal plano recupera elementos da agenda económica do ex-chanceler Gerhard Schröder, apelando a algumas receitas batidas como as de um aprofundamento das chamadas reformas estruturais (privatizações, desregulamentações, reformas no mercado laboral e no sistema educativo, entre outras), do estabelecimento nos países do Sul de agências de privatização ou de fundos especiais baseados no modelo de Treuhand (utilizado na época da reunificação alemã para facilitar a privatização de empresas estatais da ex-RDA), do lançamento de programas europeus de promoção de “start-ups” e de apoio às PMEs inspirados nos que foram criados pelo banco de desenvolvimento alemão KfW, da aceitação de uma participação num aumento do capital do BEI para 10 mil milhões de Euros (sendo de 1,6 a componente alemã) ou de uma reorientação dos fundos estruturais comunitários em favor de diversos tipos de “project bonds”.
Mas nem tudo parece ser dominantemente vulgar ou ortodoxo. Com efeito, a hipótese de criação no interior da UE de uma espécie de “zonas económicas especiais” dotadas de regimes regulamentares e fiscais mais incentivadores do investimento – uma figura que ganhou projeção no contexto da afirmação económica da China – pode vir a revelar-se uma boa e inovadora ideia ao poder patrocinar uma interessante discriminação positiva em favor da competitividade dos países europeus intervencionados ou sob a mira dos mercados. A ser verdade, será caso para que se tenha o máximo cuidado para não cair em confusões, isto é, para não se embarcar numa fácil rejeição apriorística fundada na proveniência merkeliana – porque, afinal, “nem tudo que é feio, é mau”…
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