A pequena vitória
parlamentar que o PS hoje conseguiu com a aprovação da adenda sobre o
crescimento é tragicamente uma minudência na situação a que a zona euro foi
conduzida pela inépcia política das suas lideranças.
Certamente que o
grupo parlamentar do PS sairá do recobro pós traumático que a assinatura do
acordo com a Troika implicou e espera-se alguma energia futura, sobretudo agora
que a relação de forças no seio da zona euro e da UE, mesmo que não tenha
mudado radicalmente, apresenta fissuras para uma transformação possível.
Mas é de facto uma
minudência face ao relevo das questões que se discutem fora do país e para as
quais a nossa capacidade de influência é praticamente nula, ainda que os
seguidores da tese do aluno bem comportado teimem em pensar o contrário, a começar
pelo sempre em pé Barroso.
E trata-se de uma
minudência sobretudo porque a crise grega e o risco da sua rápida extensão à
situação espanhola entraram num ponto particularmente sensível que é dado pela
eminência de fenómenos de “bank runs”
(corridas aos bancos).
A mudança qualitativa tem o seu equivalente na inexistência compreensível de
informação fidedigna seja sobre o montante efetivo de fuga de capitais e
levantamento de depósitos e outras poupanças, seja pela dificuldade de
confirmar a pretensa injeção de capital que o BCE terá feito nos bancos gregos
via respetivo banco central.
A estimativa realizada pelo Barclays Research sobre a
composição do financiamento dos bancos gregos em duas dimensões, as operações
de mercado livre e a chamada “ajuda de emergência à liquidez” (ELA – emergency
liquidity assistance), mostra claramente que é esta segunda variante que tem
aguentado o sistema bancário grego (ver gráfico que abre este post). O Financial
Times estimava esta semana que a Grécia já estará a utilizar cerca de 96 mil
milhões de euros de ajuda de emergência, o que dá uma ideia indireta da corrida
que estará em curso.
Como alguns economistas têm explicado ao longo desta
semana, uma corrida aos bancos é um fenómeno de raiz irracional mas que, uma
vez iniciado, se transforma numa adesão perfeitamente racional. O gráfico
abaixo tenta medir com a imperfeição de informação existente o fenómeno da
queda dos depósitos de famílias e empresas e simultaneamente medir o ritmo da
sua variação.
Entramos a meu ver num estádio de evolução da crise que
pode entrar em descontrolo absoluto e por isso é que a negociação nos próximos
dias em Bruxelas terá a envolvê-la um contexto radicalmente distinto do que
prevaleceu nos últimos arremedos de solução que já foram ensaiados.
Por mais adendas que tendam a emergir e por mais pequenas
vitórias que tentem ser proclamadas, é nessa batalha negocial que tudo se decidirá.
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