“Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol, de repente o céu tornou-se vermelho-sangue. Parei, inexplicavelmente cansado, e apoiei-me no muro. Línguas de fogo e sangue estendiam-se sobre o preto-azulado do fiorde e sobre a cidade. Os meus amigos continuaram a andar, enquanto eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito enorme, infinito, da natureza.” Assim descreveu o pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944) a experiência pessoal que inspirou a sua obra-prima “O Grito”.
O quadro, que adquiriu um estatuto incontestável no seio do movimento
expressionista, representa uma figura humana (andrógena?) em momento de tão profundo
desespero existencial que se ajusta bem aos tempos presentes. Como que por
coincidência, uma das suas quatro versões – a única
ainda na posse de um colecionador privado – tornou-se há dias a obra de arte
mais cara vendida em leilão (119,9 milhões de dólares, mais de 91 milhões de euros), no caso pela Sotheby's de Nova Iorque e sucedendo a “Nu, Folhas Verdes e Busto” de Pablo Picasso (leiloado, em 2010,
pela Christie’s por 106,5 milhões de dólares).
Ainda por coincidência – ou talvez não… –, têm-se desmultiplicado
os cartoons relacionados. Quatro boas versões são as que seguem, glosando a aproximação
das eleições americanas (Tom Toles, http://www.nytimes.com), o julgamento do atentado de Breivik
na ilha de Utøya (Dave Brown, http://www.independent.co.uk), a perda de uma maioria eleitoral por
parte de Merkel (http://www.handelsblatt.com) ou a situação da Grécia no seio da
Zona Euro (Steve Bell, http://www.guardian.co.uk).
Tanto para gritar e tanto ainda para libertar…
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