Muitos dos nossos responsáveis políticos
enchem recorrentemente a boca de um “Portugal não é a Grécia” que simultaneamente
lhes alivia a consciência e o fardo ou, numa pior hipótese, permite ignorar ou
fingir. A ver se nos entendemos, e com toda a frontalidade: estará Portugal assim
tão melhor do que a Grécia? Não poderá mesmo estar, de algum modo, pior?
O assunto tem pano para mangas mas recorro
ao mais recente “Global Financial Stability Report” (“The Quest for Lasting
Stability”) do Fundo Monetário Internacional (Abril 2012) para sobre ele sugerir
um exercício, quiçá algo simplista e redutor, que aponta para uma resposta perturbadora
àquelas questões – abrenúncio!
O quadro abaixo ajuda a explicar (clicar sobre para melhor leitura). Concentremo-nos
nos cinco países que insultuosamente foram batizados de “PIIGS” (Portugal, Irlanda,
Itália, Grécia e Espanha) e nos níveis das respetivas dívidas (em percentagem
do PIB) por setores institucionais. As cores vermelha, amarela e verde indiciam
o convencionado (no caso, valores em intervalos de gravidade comparativa face ao
conjunto dos países desenvolvidos e para o período 1990/2010).
Foquemo-nos no tal Portugal-Grécia: três
vermelhos e um verde para nós versus um vermelho, um amarelo e dois verdes para
os helénicos. Ambos os países apresentam uma forte dívida pública (maior a
grega) e instituições financeiras relativamente pouco endividadas, mas a
verdadeira diferença está na debilitada situação das famílias e das empresas portuguesas
face às suas congéneres gregas. Com as inerentes repercussões negativas expectáveis
no tempo em termos de condições de vida das pessoas e de capacidade competitiva
das empresas.
Voltarei necessariamente a este assunto
e a outros que lhe estão adstritos. Enuncio dois:
·
como temos vindo a sustentar neste espaço, é altamente
deficiente (para dizer o mínimo) o diagnóstico das causas da crise da dívida
soberana na Zona Euro – o alegadamente irresponsável comportamento dos governos
apenas colhe dominantemente no caso grego, estando a raíz do problema muito
mais centrada numa insustentável acumulação de dívida privada no caso dos
restantes países da periferia europeia;
·
a Espanha justifica uma especial atenção e aprofundadas
incursões, revelando um perfil que se aproxima de Portugal (descontada a devida
diferença de escala) mas é acompanhado da relativa implosão de um sistema
financeiro que parecia poderoso – e porque me inclino para considerar que a bolha imobiliária faz parte do problema
mas não se confunde com o dito, assim como também a gestão das autonomias, localizo o essencial num processo de recomposição do capitalismo internacional
e no correspondente esgotamento de uma plataforma de segunda ordem outrora significativa...
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