Maleitas de
Ménière tornam a explicar a ausência dos dois últimos dias.
400000 indivíduos é
o número estimado pelo Observatório sobre Crises e Alternativas (dirigido por
Carvalho da Silva e Boaventura Sousa Santos) para a massa de desempregados
presentemente sem qualquer forma de proteção social.
Este número representa uma séria corrosão
social e uma séria ameaça a uma das manifestações mais diferenciadoras da
sociedade portuguesa nas últimas décadas, a coesão social. Se bem que essa coesão tenha sido
essencialmente obtida à custa da criação de emprego muito desqualificado e também
à custa do incremento das formas de proteção social, o processo de corrosão que
pode a ser associado ao limiar dos 400000 indivíduos sem proteção social é trágico
e devastador.
Até porque, paradoxo dos paradoxos, se
há rubrica de despesa que apresenta um desvio favorável face ao planeado (isto é,
despesa inferior à planeada) é a da ação social. Ou seja, num panorama de
execução orçamental desolador e gritante do ponto de vista da incapacidade
governamental de domar o monstro centralista da despesa pública, a única
rubrica em que o governo se esmera é o da ação social. Brilhante.
Para além disso, se quisermos levar à
letra as infelizes palavras do Primeiro-Ministro sobre o desemprego como
oportunidade, o seu discurso conduziria à peregrina tese de que esse estímulo
ao empreendedorismo seria mais forte quando a proteção social terminasse. Absurdo
e cruel. Mas, mais do que isso, sem evidência de suporte. Hoje, na primeira página
do Público pode ler-se que só 0,5% dos desempregados cria o seu próprio
emprego. E, como bem sublinham as jornalistas Ana Rute Silva e Raquel Martins,
a mensagem do Primeiro-Ministro não se ajusta à realidade. Não haverá ninguém com
duas ideias na cabeça (uma que baste) que
aconselhe Passos Coelho a não divagar para além da evidência próxima?
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