(Enquanto o United de Manchester passeia à vontade pela Liga Europa, arrasando Romanos e aprofundando o mistério de saber porque é que o Bruno Fernandes joga aí tanto e na seleção se eclipsa, o Reino, esse está cada vez menos Unido, parecendo querer dar razão aos que viam no Brexit um assomo de orgulho que poderia fazer implodir o dito. As peripécias são múltiplas e curiosas, há para todos os gostos, mas dou frequentemente comigo a pensar: mas alguém imaginaria que um primeiro-Ministro despenteado como Boris passasse despercebido?)
À medida que as letras pequeninas e entrelinhas do BREXIT se tornam mais conhecidas, cada vez é mais percetível que muito boa gente, na classe política do Reino Unido e na tecnocracia da União Europeia, não entendeu pevide da história irlandesa, recente e passada, ou que a leu de modo excessivamente descontraído.
Ter conseguido que a velha luta Católicos versus Unionistas na Irlanda do Norte e a luta violenta contra a presença da administração britânica no território se tivessem rendido aos benefícios de uma paz institucionalizada representou uma obra política de grandes proporções. Valha a verdade que, ainda que simpatizando pouco com o homem, o papel de Tony Blair foi decisivo para essa realização. Quando nos anos 80, visitei a Irlanda do Norte com o Rui Feijó (então vereador da Câmara Municipal do Porto sob a Presidência de Fernando Gomes) e com a Professora Teresa Lago para visitar um Planetário no âmbito dos estudos para a instalação do Planetário do Porto, lembro-me de termos ficado num pequeno hotel de uma cidadezinha, que se a memória não me atraiçoa era Armagh, e que as paredes do hotel estavam ainda crivadas de buracos de balas. Estas coisas marcam para sempre. Recordo-me de ter sentido o mesmo quando numa missão de trabalho de uma semana na Hungria, para a OCDE, também me impressionaram as paredes de prédios também crivadas de balas derivadas da luta contra a ocupação soviética.
Ora, estou cada vez mais convencido que, uma vez mais, houve muita gente envolvida nas negociações do BREXIT, conservadores e estrutura técnica e política de Bruxelas, que desprezou a velha máxima com que aprendi economia do desenvolvimento (HISTORY MATTERS) e que permanentemente se renova. Por isso, há uma grande diferença quando alguém pede desculpa por um acidente trágico da história lá bem no passado e quando isso sucede (por exemplo as desculpas do SINN FEIN pela violência do IRA) com o tempo ainda recente a ocupar as memórias dos protagonistas que permanecem vivos.
Não sem surpresa o projeto ou ideia da Grande Irlanda tem ressuscitado e nos tempos mais recentes os Unionistas mais tradicionalistas têm expressado violentamente a sua perceção de que foram traídos ou abandonados nas negociações com a União Europeia, para além de serem visíveis para todos que isto de sair sem consequências era uma ilusão criada pelo alucinado e apoiado Boris. Como é óbvio, uma paz institucionalizada obtida a ferros e ainda com a memória fresca e recente, quando uma das partes dá mostras de questionar a institucionalização da paz isso pode ter efeitos devastadores, mesmo que o IRA tenha formalmente sido extinto.
Se lá para as terras de Gales aparentemente ainda não se fizeram sentir os apelos da desunião, a Escócia, embora com o independentismo atravessado por uma crise interna pelo facto do seu líder durante muitos anos se ter metido por caminhos ínvios ou se ter deixado armadilhar nesse sentido, pensa obviamente que a desunião SEGUE DENTRO DE MOMENTOS aspirando regressar ao internacionalismo da União Europeia.
E para compor bem o ramalhete ou tornar mais picante a receita, Boris Johnson vê-se envolvido num assunto mundano de obras luxuosas de renovação do seu apartamento e para além disso vê o seu sinistro ex-assessor Dominic Cummings regressar á atualidade das notícias pelos piores motivos possíveis.
Pobre da Rainha, leva com a THE CROWN em cima, um dos seus netos renega a Família Real, vê partir o seu Príncipe “Com Sorte” e ainda apanha um Reino que de UNITED começa a ter pouco e, certamente, ou ignora o soccer ou não será fã do United. Isabel bem merecia uma retirada com menos preocupações.