(estadosentido.blogs.sapo.pt)
Como previa, o mistério das origens da ideia peregrina de
descer a TSU às empresas e de a subir aos trabalhadores tão candidamente apresentada
pelo primeiro-ministro como pretensa alternativa ao chumbo do Tribunal
Constitucional haveria de desvanecer-se. Ora, tudo indica que o mistério está
resolvido.
A investida (de baixo e mau gosto) do senhor Borges
contra os empresários que não só se insurgiram contra a medida mas também
admitiram a hipótese de devolver aos trabalhadores do seu próprio bolso o que
lhes era retirado (como aconteceu no setor do calçado) é, na minha perspetiva,
um bom indicador das origens da tão arreigada convicção do primeiro-Ministro. Talvez
acrescentasse ao quadro a perspicácia do pequenino e sabidola Moedas e o beneplácito
do ministro Gaspar.
Compreende-se que o homem, o senhor Borges, ande mal com
a vida. Afinal, ele é um génio, ou considera-se como tal, teve a seus pés uma
grande escola de negócios para a economia global, uma consultora financeira
cuja seriedade na grande crise de 2007/2008 deixa muito a desejar e até o FMI
Europa não escapou à sua sapiência. Ora, nestas condições, ser incompreendido
no seu próprio país, apesar de ministro-sombra, e serem rejeitadas as suas
propostas de rumo quando ele não está à vista, é coisa que deve abalar qualquer
um. Mas o que poderia gerar uma reação de simples incompreensão e de alguma
tristeza, leva o senhor Borges a espingardear para todos os lados e pelos
vistos a transmitir ao primeiro-Ministro ideias similares. Há dias, Passos
Coelho sobre esta questão dizia que a permanência de uma dialética entre
trabalho e capital nas empresas nos tempos que correm era sinal de que não
tinham compreendido o sinal desses tempos. Quem? Os trabalhadores e os empresários
ou ele próprio?
Pois nessa atitude de espingardear para todos os lados à
sombra de um estatuto de ministro-sombra não esteve com meias medidas e chamou
ignorantes aos empresários e, do alto da sua cátedra (qual?), disse mesmo que
chumbariam à sua disciplina. Além de tudo, é um insulto sério à memória do seu próprio avô, Eng. Mário Borges, um dos vultos mais proeminentes da então Associação Industrial Portuense, agora Associação Empresarial de Portugal. Alguns deles responderam-lhe à letra, dizendo por
exemplo que não seria recrutado por qualquer uma das suas empresas, o que deixa
alguns empregadores do senhor Borges, a começar pelo próprio Governo, em situação
ingrata.
Sente-se que o senhor Borges está de mal com a vida, síndroma
comum em personalidades incompreendidas deste calibre. Mas não haverá por aí nenhuma
consultora financeira internacional que o acolha, lhe massaje o ego e o
ponha a milhas de propor rumos para o país?