domingo, 2 de setembro de 2012

EDUCAÇÃO, FINALMENTE


O artigo de hoje no Público de Joaquim Azevedo vem interromper um longo silêncio entre as gentes de respeito que estão próximas da atual maioria política quanto à política educativa que está a ser desenvolvida pelo … Ministério das Finanças.
Não vou assumir aqui o tom de diatribe que Santana Castilho, outro cronista no mesmo jornal, tem assumido, sobretudo quando as suas relações com o primeiro-Ministro Passos Coelho esfriaram a ponto de se sentir despeitado por um apoio inicial oportunamente tornado público.
Mas o estado de expectativa quanto à atuação de Nuno Crato já há muito se dissipou, pois o que se tem visto é pura navegação à vista, ausência de ideias de longo prazo e sobretudo muito senso comum para comentador convidado por Mário Crespo ou para emparelhar com Medina Carreira. Ironia das ironias, a política do Governo parece em Plano Inclinado, o que pode muito bem acontecer a quem passa do comentário político para o exercício da atividade governativa.
O artigo de Joaquim Azevedo não provém de uma pessoa qualquer, mas talvez da perspetiva de governação da educação mais ambiciosa que passou por governos de centro-direita e, curiosamente, a partir de uma posição de Secretário de Estado. É assim o primeiro alerta proveniente de quem pensa estruturadamente as coisas da educação e poderia perfeitamente estar na governação.
A tese de Joaquim Azevedo é relevante, pois tem uma perspetiva de futuro: a política de educação deveria ser aplicada em contraciclo à situação depressiva da economia. A sua ideia de que a educação tem constituído o principal fator de coesão da sociedade portuguesa nas duas últimas décadas é de uma grande visão e partilho-a integralmente:
“A quase totalidade das crianças e dos jovens até aos 17 anos já se encontra na escola. O esforço brutal que isto significou e a beleza cultural deste passo já dado nos últimos 40 anos, reclamam de todos os portugueses o melhor e máximo aproveitamento deste bem comum, para benefício de todos. É de ouro esta oportunidade para escolarizar com nível secundário todos os portugueses e não apenas os 75% ‘mais fáceis’.
A perspetiva de futuro e de contraciclo que Joaquim Azevedo reivindica para a educação não é exequível num ministério comandado pelas Finanças, com a perspetiva de que o setor, tais como outros, é um setor corporativo “input based”, ou seja que se justifica pela despesa pública que apropria. A tese exposta por JÁ exige um diálogo diferente do governo com a comunidade escolar. Mas quem vem, como Crato, de prestações no Plano Inclinado, dificilmente entenderá esta perspetiva de contraciclo e de preparação do futuro. Aliás as informações que se vão obtendo vão no sentido de desmantelamento no Ministério de tudo que poderia constituir conhecimento útil e necessário para a construção desse novo diálogo com a comunidade escolar.

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