O artigo de hoje no Público de Joaquim Azevedo vem
interromper um longo silêncio entre as gentes de respeito que estão próximas da
atual maioria política quanto à política educativa que está a ser desenvolvida
pelo … Ministério das Finanças.
Não vou assumir aqui o tom de diatribe que Santana
Castilho, outro cronista no mesmo jornal, tem assumido, sobretudo quando as
suas relações com o primeiro-Ministro Passos Coelho esfriaram a ponto de se
sentir despeitado por um apoio inicial oportunamente tornado público.
Mas o estado de expectativa quanto à atuação de Nuno
Crato já há muito se dissipou, pois o que se tem visto é pura navegação à
vista, ausência de ideias de longo prazo e sobretudo muito senso comum para
comentador convidado por Mário Crespo ou para emparelhar com Medina Carreira. Ironia
das ironias, a política do Governo parece em Plano Inclinado, o que pode muito
bem acontecer a quem passa do comentário político para o exercício da atividade
governativa.
O artigo de Joaquim Azevedo não provém de uma pessoa
qualquer, mas talvez da perspetiva de governação da educação mais ambiciosa que
passou por governos de centro-direita e, curiosamente, a partir de uma posição
de Secretário de Estado. É assim o primeiro alerta proveniente de quem pensa
estruturadamente as coisas da educação e poderia perfeitamente estar na
governação.
A tese de Joaquim Azevedo é relevante, pois tem uma
perspetiva de futuro: a política de educação deveria ser aplicada em
contraciclo à situação depressiva da economia. A sua ideia de que a educação
tem constituído o principal fator de coesão da sociedade portuguesa nas duas últimas
décadas é de uma grande visão e partilho-a integralmente:
“A quase
totalidade das crianças e dos jovens até aos 17 anos já se encontra na escola. O
esforço brutal que isto significou e a beleza cultural deste passo já dado nos últimos
40 anos, reclamam de todos os portugueses o melhor e máximo aproveitamento
deste bem comum, para benefício de todos. É de ouro esta oportunidade para
escolarizar com nível secundário todos os portugueses e não apenas os 75% ‘mais
fáceis’.
A perspetiva de futuro e de contraciclo que Joaquim
Azevedo reivindica para a educação não é exequível num ministério comandado
pelas Finanças, com a perspetiva de que o setor, tais como outros, é um setor
corporativo “input based”, ou seja que se justifica pela despesa pública que
apropria. A tese exposta por JÁ exige um diálogo diferente do governo com a comunidade
escolar. Mas quem vem, como Crato, de prestações no Plano Inclinado,
dificilmente entenderá esta perspetiva de contraciclo e de preparação do
futuro. Aliás as informações que se vão obtendo vão no sentido de
desmantelamento no Ministério de tudo que poderia constituir conhecimento útil
e necessário para a construção desse novo diálogo com a comunidade escolar.
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