(Juventude Esquerra desfralda a bandeira autonómica)
Peço folga da situação política nacional. Na sexta-feira,
quando comentei quase em cima da hora a comunicação ao país de Passos Coelho
tive a intuição do que iria acontecer. E não me enganei. Um coro quase uníssono
de vozes clamando pela impreparação e sobranceria da comunicação recebeu a
pretensa postura de Estado que procurou passar incólume antes do jogo da seleção
com críticas violentas, abrangendo um leque político bastante vasto que penetrou
claramente no centro-direita. Por isso, insistir nesta fase equivaleria a bater
no ceguinho e de facto os rapazes estão mesmo ceguinhos e sem a mínima
capacidade de sentir o país, a rua, os autocarros e os comboios. Peço folga
justificada.
Até porque amanhã é dia de Diada catalã, festa nacional
da Catalunha. E não é uma Diada qualquer, merecendo por isso a atenção deste
blogue. Entre inúmeras crónicas dedicadas a dia de tantas emoções e de dúvidas
também, Carles Castro no La Vanguardia assinala e bem que 35 anos depois a
Diada catalã arrisca-se a marcar de novo o compasso político em Espanha. Sobretudo
porque, hoje, o contexto da manifestação de amanhã é substancialmente diferente
da mítica manifestação de 1977: o incremento do pró-independentismo acontece em simultâneo (diria eu pour cause) com a fortíssima ofensiva centralista do PP. As
sondagens disponíveis apontam para uma aceleração vertiginosa dos eleitores
favoráveis a uma situação de independência no quadro de uma Espanha federal ou
fragmentada. Estima-se que mais do 51% dos inquiridos responderia
favoravelmente a um referendo que colocasse a hipótese da independência. A
radicalização está no adro e com sinais de que essa posição ultrapassou já os
limites da base social de apoio da CiU. Mas as trincheiras do centralismo estão
também mais fortes. A Espanha está já fraturada mesmo sem a concretização do
risco. O que coloca um enorme desafio ao significado da festa nacional que é de
todos os catalães.
A indeterminação que paira hoje sobre uma pós eventual
declaração de rutura tende a aumentar a tensão da manifestação onde vai ser difícil
distinguir o apoio à ideia de pacto fiscal com o governo de Madrid orientado
para uma política fiscal autonómica e própria do apoio ao independentismo. Na
manifestação estarão representadas ambas as tendências, já que inúmeros
representantes de forças políticas que não apoiam o independentismo aí estarão
a título pessoal.
Estou com curiosidade com a reação de um PP duro de rins
e, a meu ver, acossado do exterior e incapaz de formular soluções que mantenham
as comunidades históricas associadas a uma Espanha, nação de nações.
Inúmeros intelectuais que abominam o centralismo
madrileno têm muitas reservas à deriva catalã, sobretudo pelo contexto em que a
radicalização se produz. Juan Subirats, que participou recentemente na obra do
Eixo Atlântico que tive oportunidade de co-coordenar sobre a governação das
Cidades no século XXI, ilustra cabalmente essas dúvidas numa crónica de hoje no
El País. Subirats torce-se todo com as ideias que vão emergindo entre
independentistas mais radicais de “primeiro a independência, depois veremos”. Cito:
“Os temos não estão para cheques em branco, mesmo que venham acompanhados de
visitas ao notário. Sou europeísta convicto, mas não a qualquer preço nem numa
Europa qualquer. Digo o mesmo em relação a uma Catalunha independente.”
Assino por baixo. Afinal, um cheque em branco foi o que
Passos Coelho nos quis passar com uma pretensa postura de Estado. Mas quem
confia nesta gente?
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