segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A DIADA DE TODAS AS EMOÇÕES

(Juventude Esquerra desfralda a bandeira autonómica)


Peço folga da situação política nacional. Na sexta-feira, quando comentei quase em cima da hora a comunicação ao país de Passos Coelho tive a intuição do que iria acontecer. E não me enganei. Um coro quase uníssono de vozes clamando pela impreparação e sobranceria da comunicação recebeu a pretensa postura de Estado que procurou passar incólume antes do jogo da seleção com críticas violentas, abrangendo um leque político bastante vasto que penetrou claramente no centro-direita. Por isso, insistir nesta fase equivaleria a bater no ceguinho e de facto os rapazes estão mesmo ceguinhos e sem a mínima capacidade de sentir o país, a rua, os autocarros e os comboios. Peço folga justificada.
Até porque amanhã é dia de Diada catalã, festa nacional da Catalunha. E não é uma Diada qualquer, merecendo por isso a atenção deste blogue. Entre inúmeras crónicas dedicadas a dia de tantas emoções e de dúvidas também, Carles Castro no La Vanguardia assinala e bem que 35 anos depois a Diada catalã arrisca-se a marcar de novo o compasso político em Espanha. Sobretudo porque, hoje, o contexto da manifestação de amanhã é substancialmente diferente da mítica manifestação de 1977: o incremento do pró-independentismo acontece em simultâneo (diria eu pour cause) com a fortíssima ofensiva centralista do PP. As sondagens disponíveis apontam para uma aceleração vertiginosa dos eleitores favoráveis a uma situação de independência no quadro de uma Espanha federal ou fragmentada. Estima-se que mais do 51% dos inquiridos responderia favoravelmente a um referendo que colocasse a hipótese da independência. A radicalização está no adro e com sinais de que essa posição ultrapassou já os limites da base social de apoio da CiU. Mas as trincheiras do centralismo estão também mais fortes. A Espanha está já fraturada mesmo sem a concretização do risco. O que coloca um enorme desafio ao significado da festa nacional que é de todos os catalães.
A indeterminação que paira hoje sobre uma pós eventual declaração de rutura tende a aumentar a tensão da manifestação onde vai ser difícil distinguir o apoio à ideia de pacto fiscal com o governo de Madrid orientado para uma política fiscal autonómica e própria do apoio ao independentismo. Na manifestação estarão representadas ambas as tendências, já que inúmeros representantes de forças políticas que não apoiam o independentismo aí estarão a título pessoal.
Estou com curiosidade com a reação de um PP duro de rins e, a meu ver, acossado do exterior e incapaz de formular soluções que mantenham as comunidades históricas associadas a uma Espanha, nação de nações.
Inúmeros intelectuais que abominam o centralismo madrileno têm muitas reservas à deriva catalã, sobretudo pelo contexto em que a radicalização se produz. Juan Subirats, que participou recentemente na obra do Eixo Atlântico que tive oportunidade de co-coordenar sobre a governação das Cidades no século XXI, ilustra cabalmente essas dúvidas numa crónica de hoje no El País. Subirats torce-se todo com as ideias que vão emergindo entre independentistas mais radicais de “primeiro a independência, depois veremos”. Cito: “Os temos não estão para cheques em branco, mesmo que venham acompanhados de visitas ao notário. Sou europeísta convicto, mas não a qualquer preço nem numa Europa qualquer. Digo o mesmo em relação a uma Catalunha independente.”
Assino por baixo. Afinal, um cheque em branco foi o que Passos Coelho nos quis passar com uma pretensa postura de Estado. Mas quem confia nesta gente?

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