Fotografia de Américo Miguel Oliveira (Obrigado Caro Primo)
A síntese de Carlos Amaral Dias na RTP1 talvez tenha sido
a mais feliz de todo um dia de ressurgimento da sociedade civil. A marca mais
representativa de todo o processo de manifestação que se desenvolveu por todo o
país é a sua natureza inorgânica. Uma presença fugaz do Bloco no Porto não
chegou para apagar essa natureza claramente apartidária, transversal,
interclassista e cobrindo praticamente todos os escalões etários. Não foi de
facto um país globalmente deprimido que se manifestou. Foi antes ainda um país
que assumiu o sujeito da intervenção, que se indignou, que manifestou estar
chocado pela quebra de expectativas, pela descida vertiginosa do seu rendimento
disponível, pela injustiça da desigualdade, pela falta da clareza e de transparência
da governação. A tese do não há alternativa desmoronou-se, pelo menos a partir
do momento em que está questionada, não necessariamente superada.
De facto, “existimos para além de vocês e não nos
reconhecemos no espelho das nossas representações Governo e Assembleia da República”.
Manifestações massivas não apenas para Governo interpretar, mas sim para todas
as forças políticas integrar na sua revisão de interpretar os sentimentos mais
profundos dos eleitores.
No mesmo debate, Adelino Maltez sublinhava a
possibilidade de algo de novo ter sido recuperado. Veremos se a dinâmica política
é de algum modo infletida por esta manifestação de autonomia de representação e
de indignação.
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