(Fotografia de Nuno Ferreira Santos, Jornal Público)
Escrevo ainda sem uma perspetiva segura do que vai
seguir-se ao pós-Conselho de Estado. O sempre bem informado Expresso anunciava
ontem no Expresso da Meia Noite o que
a edição de hoje afinal pouco adianta. Existe a vaga perceção de que o modelo
TSU Robin Hood invertido, isto é, tirando ao trabalho para dar às empresas, vai
cair e que os obcecados pela desvalorização fiscal terão de contentar-se com a
sua aplicação à criação de novo emprego. Vamos acabar por ter um indicador
fidedigno da leviandade com que esta medida foi preparada. Bastará quantificar
as empresas e os postos de trabalho que beneficiarão desta versão mais
restrita.
Bom, dou de barato que a TSU original caiu. Mas subsiste
a questão de saber se as alternativas em estudo irão ser orientadas para uma
perspetiva efetiva de equidade e coesão como o sugere o comunicado do Conselho
de Estado ou se persistirão os indicadores de inequidade e de intocabilidade
dos percentis superiores da distribuição do rendimento em Portugal.
Permanece, pelo contrário, intacta a trapalhada para o
declínio em que Vítor Gaspar se embrulhou. Se o homem for coerente, teremos uma
queda lenta e monótona. De facto, cada vez mais é evidente que o ministro das
Finanças está a antecipar o efeito do denominador na subida do défice, ou seja,
a antecipar que a recessão será mais intensa e prolongada, aumentando o peso do
défice no PIB. Temos aqui a evidência mais inequívoca da espiral de
autodestruição em que o mito da austeridade expansionista está mergulhado. Restar-lhe-á
controlar até as faturas de papel higiénico dos serviços.
Imagino depois que o primeiro-Ministro vai revelar-se exímio,
tal como Sócrates o era, a comunicar uma ideia e o seu contrário. Outros como o
pequenino e sabidolas Moedas irão tentar apagar dos vestígios para a história
as suas afirmações de que não compreendia as empresas, necessitando de liquidez
e rejeitando a TSU, ditas algures num almoço qualquer para estrangeiro ver. Por
esta altura, estará já a preparar com o mesmo afã as medidas alternativas.
Tudo isto pode acontecer. Mas os danos são irreparáveis. O
Expresso sugere que a ultrapassagem da situação terá resultado de uma concertação
dinamizada pela Presidência, Conselho Económico e Social e Banco de Portugal. Mas,
repito, os dados são irreparáveis, sobretudo porque quem apresenta uma medida
destas com a maior das certezas ou é irresponsável ou está vidrado na tentativa
de utilização da Troika como instrumento de mudança de regime sem escrutínio
político e democrático. Não é boa gente, qualquer que seja a orientação inspiradora.
Adelino Maltez dizia ontem no Expresso da Meia Noite que
a maioria tinha ainda a capacidade de apostar tudo na remodelação governamental
e lançar para a batalha a sua gente de elite, ou seja gente com capacidade para
superar a impreparação Jotista que grassa por este Governo, que até tem
criacionistas como o impagável Álvaro. É bem pensado, talvez superasse a paz
podre que reinará no casal desavindo e agora regressado ao politicamente
correto. Mas tenho a intuição de que os grandes senhores a que Adelino Maltez se
referia estejam já a preparar uma musiquinha para assobiarem para o lado, algo
de parecido de tirem-me deste filme ou não me comprometa, por favor.
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