sábado, 22 de setembro de 2012

O DESNORTE INCOMPETENTE TRANSFORMADO EM RECUO

(Fotografia de Nuno Ferreira Santos, Jornal Público)

Escrevo ainda sem uma perspetiva segura do que vai seguir-se ao pós-Conselho de Estado. O sempre bem informado Expresso anunciava ontem no Expresso da Meia Noite o que a edição de hoje afinal pouco adianta. Existe a vaga perceção de que o modelo TSU Robin Hood invertido, isto é, tirando ao trabalho para dar às empresas, vai cair e que os obcecados pela desvalorização fiscal terão de contentar-se com a sua aplicação à criação de novo emprego. Vamos acabar por ter um indicador fidedigno da leviandade com que esta medida foi preparada. Bastará quantificar as empresas e os postos de trabalho que beneficiarão desta versão mais restrita.
Bom, dou de barato que a TSU original caiu. Mas subsiste a questão de saber se as alternativas em estudo irão ser orientadas para uma perspetiva efetiva de equidade e coesão como o sugere o comunicado do Conselho de Estado ou se persistirão os indicadores de inequidade e de intocabilidade dos percentis superiores da distribuição do rendimento em Portugal.
Permanece, pelo contrário, intacta a trapalhada para o declínio em que Vítor Gaspar se embrulhou. Se o homem for coerente, teremos uma queda lenta e monótona. De facto, cada vez mais é evidente que o ministro das Finanças está a antecipar o efeito do denominador na subida do défice, ou seja, a antecipar que a recessão será mais intensa e prolongada, aumentando o peso do défice no PIB. Temos aqui a evidência mais inequívoca da espiral de autodestruição em que o mito da austeridade expansionista está mergulhado. Restar-lhe-á controlar até as faturas de papel higiénico dos serviços.
Imagino depois que o primeiro-Ministro vai revelar-se exímio, tal como Sócrates o era, a comunicar uma ideia e o seu contrário. Outros como o pequenino e sabidolas Moedas irão tentar apagar dos vestígios para a história as suas afirmações de que não compreendia as empresas, necessitando de liquidez e rejeitando a TSU, ditas algures num almoço qualquer para estrangeiro ver. Por esta altura, estará já a preparar com o mesmo afã as medidas alternativas.
Tudo isto pode acontecer. Mas os danos são irreparáveis. O Expresso sugere que a ultrapassagem da situação terá resultado de uma concertação dinamizada pela Presidência, Conselho Económico e Social e Banco de Portugal. Mas, repito, os dados são irreparáveis, sobretudo porque quem apresenta uma medida destas com a maior das certezas ou é irresponsável ou está vidrado na tentativa de utilização da Troika como instrumento de mudança de regime sem escrutínio político e democrático. Não é boa gente, qualquer que seja a orientação inspiradora.
Adelino Maltez dizia ontem no Expresso da Meia Noite que a maioria tinha ainda a capacidade de apostar tudo na remodelação governamental e lançar para a batalha a sua gente de elite, ou seja gente com capacidade para superar a impreparação Jotista que grassa por este Governo, que até tem criacionistas como o impagável Álvaro. É bem pensado, talvez superasse a paz podre que reinará no casal desavindo e agora regressado ao politicamente correto. Mas tenho a intuição de que os grandes senhores a que Adelino Maltez se referia estejam já a preparar uma musiquinha para assobiarem para o lado, algo de parecido de tirem-me deste filme ou não me comprometa, por favor.

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