domingo, 16 de setembro de 2012

ESPECULAÇÃO IMPROVISADA AO SABOR DO MOMENTO

É tempo de balanço, parece ter querido determinar o último post do meu amigo e catalisador deste blogue António Figueiredo. Pois seja, aí vão mais algumas achas para fazer arder essa fogueira.

Não sei se me revejo cabalmente nas “famílias” da tipologia proposta pelo AF. A meu ver, e pelo menos, ainda lhe faltaria considerar/incluir as ratazanas, os sempre-em-pé e várias espécies de vaidosos e parolões, tudo isso para além de aprofundar, em contraponto, a sua ideia de “gente lúcida” (talvez à luz de “insights” como independência, competência e experiência). E, mesmo assim, não sei se iremos conseguir catalogar adequadamente um figurão finíssimo e rebuscadíssimo como é Paulo Portas (abaixo caricaturado por  Fernando Campos, em  http://ositiodosdesenhos.blogspot.com).


Nesta fase do campeonato, e assinando integralmente por baixo em relação às caraterísticas de consistência profissional que definem a grande jornalista que é Teresa de Sousa, julgo pertinente salientar a sua coexistência com outros tipos de perfis de lucidez (menos “sangue, suor e lágrimas”, digamos). Por exemplo, aqueles mais orientados por certos “mix” de inteligência, intuição, rapidez, coragem e capacidade de síntese e comunicação (necessariamente também, mais propensos a que pontualmente possa sair asneira). Falo de gente como Miguel Sousa Tavares que ainda esta semana disse tanto em tão pouco:
  •         “acho que o lado negro de Passos Coelho é que ele não tem uma ideia própria na cabeça sobre assunto nenhum”;
  •      “ele [Passos] diz que a diferença é que a outra [a TSU baixar com o IVA] era uma medida de curto prazo, enquanto que desta maneira [a TSU baixar com os descontos dos trabalhadores] é uma medida de médio e longo prazo que vai ser boa para a competitividade porque baixa os salários definitivamente (…) – eles querem tornar Portugal competitivo pagando salários de Terceiro Mundo, mas querem mesmo, é um programa político”;
  •   “é um problema de falta de agenda política, de receitas económicas erradas e de uma gente totalmente impreparada para governar, desfasada da realidade e – como estamos agora a ver – notoriamente incompetentes. (…) O mais incompetente de todos, acabou de o demonstrar hoje, é o próprio primeiro-ministro que chefia este Governo”.



Quanto a Maria João Rodrigues, que conheço bem desde Paris e de quem gosto, tendo a ver o seu posicionamento sobre estas matérias menos como uma evidência de lucidez do que como uma dominância da dupla informação/taticismo; ainda que com a lucidez de quem resiste ao acantonamento lisboeta e se esforça por respirar atmosferas mais arejadas. Além disso, concordo largamente com o AF quando refere que o ponto nevrálgico poderá estar menos na interação das três prioridades de MJR (que estão, a meu ver, pouco trabalhadas no seu conteúdo e faseamento) do que na relação de submissão do Governo face à Troika e aos seus congéneres europeus. Manuela Ferreira Leite exprimiu-o de modo exímio: “Mas há uma coisa que eu tenho a certeza. É que, àquilo a que eu fosse obrigada a fazer que eu considerasse que era pernicioso para o País, no mínimo dizia-o aos portugueses. (…) E devo dizer que berrava por todos os lados, nomeadamente nas instâncias europeias, dizendo: eu tenho estado a comportar-me bem, eu tenho estado a fazer tudo direitinho, eu tenho condições excecionais no País para fazer tudo bem, não posso ser mais bem comportado do que aquilo que estou a ser e, em cima disso, nem me ouvem!”

Voltando a Paulo Portas, divido-me sobre qual possa ser, em última instância, a sua real estratégia. Dando de barato o seu repetidamente proclamado patriotismo e assumindo como óbvia a sua vitória conjuntural no seio da coligação, o que está por saber é quando e até onde lhe importará dispor do pueril Passos (e, até certo ponto, também de Seguro) para desencadear novas incursões rumo a uma ambicionada liderança governativa. As dúvidas permanecem mais do que muitas – entre elas: o que representa hoje, verdadeiramente, o PSD dos chamados “passistas”? E o dos barões incomodados? E o cavaquismo? E, de outro modo, qual a correlação de forças em presença relativamente à nossa cada vez mais enfraquecida classe dirigente? E, por outro lado, qual o real peso que pode advir do protesto nas ruas e nas praças?

Temo que Portugal, a meio de uma arriscada travessia em que já cometeu erros irreversíveis desde que se viu sujeito à batuta de um Passos ofuscado pela ilusão do poder e correspondente papel que ocuparia na História – primeiro capturado por Relvas e seus apaniguados (chumbo do PEC 4, resgate tornado inevitável, negociação inenarrável do memorando com a Troika, processo eleitoral, modelo governativo, assunção de uma radical subserviência europeia), depois tomado por uma fé gaspariana que tão serviçalmente assenta em interesses internacionais dominantes –, possa estar mais próximo de um caminho “à grega” do que de “outro caminho”.

Neste quadro, talvez nada deva ser a priori excluído. Mesmo arriscando cometer algum sacrilégio. É, assim, que o pensamento flui: quem poderia por cá encarnar o aproveitamento de um ainda duvidoso cenário europeu marcado pela consolidação de movimentos duradouros em direção a uma saída da crise? Não será que a nossa melhor expectativa de curto/médio prazo até poderia advir de um (difícil) apagamento dos aparelhos partidários com paralela emergência executiva da dimensão tecnocrática? E quem poderia ser o nosso Monti? Pessoalmente, e conjugando o “lugar certo na hora certa” com as imprescindíveis condições de credibilidade e competência, só consigo apontar ao nome de Carlos Costa…

Sem comentários:

Enviar um comentário