António Nogueira Leite, o tal que expressou no Facebook
que se piraria (não se sabe para onde) na ressaca do anúncio da TSU, agora mais
ou menos malograda, terá sido o promotor na administração da CGD, banco público,
de mais um estudo de Augusto Mateus sobre a economia portuguesa, neste caso
sobre o tema “Exportação, valor, crescimento”. O estudo não está ainda disponível
na página da CGD, limitando-me por isso ao eco que o Jornal de Negócios lhe deu
no fim da semana passada.
Não estando aqui em causa a valia curricular do Augusto
Mateus, gostaria que um banco público (até quando?) como a CGD tivesse uma política
mais clara de adjudicação deste tipo de trabalhos, o mínimo que se pode exigir
a uma mobilização mais transparente dos recursos de conhecimento existentes
sobre esta matéria em Portugal.
Ora, aquilo que foi apresentado como se tratasse de uma séria
inovação analítica, vem simplesmente na sequência dos trabalhos esses sim
pioneiros que, já lá vão quase trinta anos, o GEBEI (de João Cravinho, Vítor
Dionísio e outros) trouxe à economia aplicada em Portugal. Ou seja, quando se
olha para as exportações, o fundamental é perceber qual o valor acrescentado
que é efetivamente exportado através dessas exportações. E, tal como os estudos
do GEBEI já evidenciavam, a hierarquização das nossas exportações quando é
realizada a partir do valor acrescentado exportado é significativamente
distinta de uma mera listagem de setores exportadores. Este cálculo exige a
disponibilidade de matrizes input-output atualizadas e capazes de ir refletindo
as alterações tecnológicas da economia portuguesa e das relações intersectoriais,
o que é particularmente exigente numa economia que recorre ainda essencialmente
à difusão de progresso técnico proveniente do exterior.
A figura abaixo, reproduzida do Jornal de Negócios e com
a devida vénia ao Augusto Mateus e sua equipa, apresenta a relevância do conteúdo
importado das exportações em vários ciclos de crescimento da economia
portuguesa.
A não novidade analítica da ideia não invalida a sua relevância
para uma política económica de apoio efetivo à exportação, a qual não pode
deixar de ser modelada em função do seu contributo para a geração de valor
acrescentado e da sua integração na cadeia de valor gerada em território
nacional. Aparentemente, de acordo com as afirmações de Nogueira Leite, a CGD
retirará as devidas implicações do estudo para orientar a sua política de crédito
à exportação. Mas o problema é a inexistência de ideias firmes de política económica
sobre esta matéria. O criacionista Álvaro jamais em tempo algum compreenderá
estas questões da inovação e da exportação, onde as curvas de aprendizagem são
cruciais para explicar as performances em mercado aberto. Estamos no reino do
evolucionismo económico, questão que um criacionista jamais entenderá sobretudo
porque se recusa a entender.
Se formos bem fundo na análise do êxito de algumas economias
asiáticas na promoção das suas exportações encontraremos perspetivas de apoio público
fortemente seletivas em função de ideias que se prendem com o valor acrescentado
das exportações, com o seu grau de integração na cadeia de valor nacional, com
o papel do investimento direto estrangeiro nessa transformação e com substituição
de importações diretamente ligadas a objetivos de exportação. Mas, também nessas
experiências, dos criacionistas não reza a história.
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