domingo, 23 de setembro de 2012

EXPORTAÇÕES E POLÍTICA ECONÓMICA



António Nogueira Leite, o tal que expressou no Facebook que se piraria (não se sabe para onde) na ressaca do anúncio da TSU, agora mais ou menos malograda, terá sido o promotor na administração da CGD, banco público, de mais um estudo de Augusto Mateus sobre a economia portuguesa, neste caso sobre o tema “Exportação, valor, crescimento”. O estudo não está ainda disponível na página da CGD, limitando-me por isso ao eco que o Jornal de Negócios lhe deu no fim da semana passada.
Não estando aqui em causa a valia curricular do Augusto Mateus, gostaria que um banco público (até quando?) como a CGD tivesse uma política mais clara de adjudicação deste tipo de trabalhos, o mínimo que se pode exigir a uma mobilização mais transparente dos recursos de conhecimento existentes sobre esta matéria em Portugal.
Ora, aquilo que foi apresentado como se tratasse de uma séria inovação analítica, vem simplesmente na sequência dos trabalhos esses sim pioneiros que, já lá vão quase trinta anos, o GEBEI (de João Cravinho, Vítor Dionísio e outros) trouxe à economia aplicada em Portugal. Ou seja, quando se olha para as exportações, o fundamental é perceber qual o valor acrescentado que é efetivamente exportado através dessas exportações. E, tal como os estudos do GEBEI já evidenciavam, a hierarquização das nossas exportações quando é realizada a partir do valor acrescentado exportado é significativamente distinta de uma mera listagem de setores exportadores. Este cálculo exige a disponibilidade de matrizes input-output atualizadas e capazes de ir refletindo as alterações tecnológicas da economia portuguesa e das relações intersectoriais, o que é particularmente exigente numa economia que recorre ainda essencialmente à difusão de progresso técnico proveniente do exterior.
A figura abaixo, reproduzida do Jornal de Negócios e com a devida vénia ao Augusto Mateus e sua equipa, apresenta a relevância do conteúdo importado das exportações em vários ciclos de crescimento da economia portuguesa.

A não novidade analítica da ideia não invalida a sua relevância para uma política económica de apoio efetivo à exportação, a qual não pode deixar de ser modelada em função do seu contributo para a geração de valor acrescentado e da sua integração na cadeia de valor gerada em território nacional. Aparentemente, de acordo com as afirmações de Nogueira Leite, a CGD retirará as devidas implicações do estudo para orientar a sua política de crédito à exportação. Mas o problema é a inexistência de ideias firmes de política económica sobre esta matéria. O criacionista Álvaro jamais em tempo algum compreenderá estas questões da inovação e da exportação, onde as curvas de aprendizagem são cruciais para explicar as performances em mercado aberto. Estamos no reino do evolucionismo económico, questão que um criacionista jamais entenderá sobretudo porque se recusa a entender.
Se formos bem fundo na análise do êxito de algumas economias asiáticas na promoção das suas exportações encontraremos perspetivas de apoio público fortemente seletivas em função de ideias que se prendem com o valor acrescentado das exportações, com o seu grau de integração na cadeia de valor nacional, com o papel do investimento direto estrangeiro nessa transformação e com substituição de importações diretamente ligadas a objetivos de exportação. Mas, também nessas experiências, dos criacionistas não reza a história.

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