sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A SEXUALIDADE E A RELAÇÃO PÚBLICO-PRIVADO

(Concejal Olvido Hormigos, fotografia de Bernardo Pérez para o El País)


Na minha jornada de trabalho de ontem em Vigo fui surpreendido por um alvoroço de discussão na televisão e alguma imprensa espanhola centrado num vídeo que foi ilegal e viciosamente transposto para a NET.
O que se passou então?
A vereadora socialista Olvido Hormigos de um pequeno pueblo de cerca de seis mil habitantes da zona de Toledo viu um vídeo seu, de conteúdo erótico, por ela realizado e destinado ao seu marido, difundido em cerca de duas horas por toda a NET e por toda a população local. O vídeo, em que a vereadora expõe os seios e aparentemente pratica uma sessão de masturbação, pois a câmara fixa-se apenas num plano da cintura para cima, constituiu no dia de ontem o pretexto para uma discussão acalorada sobre se a vereadora deveria ou não demitir-se.
Atordoada pela primeira rodada de reações locais, Olvido decidiu primeiro pelo abandono, mas depois de algumas expressões de solidariedade (Elena Valenciano do PSOE não esteve pelo menos e afirmou que a Espanha de Bernarda Alba e da repressão sexual já tinha acabado) parece ter reconsiderado e prepara-se para enfrentar a ressaca.
Estamos perante um ato de sexualidade estrita e a relação entre casais ou parceiros é do foro privado e mais íntimo. Parece não estar aqui presente nenhuma forma de delito, a não ser a difusão ilegal na NET do vídeo que, pelos vistos, terá um alegado responsável. Provavelmente um ato de corrupção ou uma violação deliberada de uma qualquer lei não teria determinado tal alarido e o alegado infrator assistiria à sessões municipais sem grande incómodo.
Parece estar aqui em causa a defesa do princípio inalienável do direito à intimidade e privacidade. Mas é um caso exemplar para avaliar em que medida a relação, nessa perspetiva entre o público e o privado, pode ser questionada pelas redes sociais.

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