A pobreza deprimentemente franciscana que marca o debate público em Portugal, com especial responsabilidade para a maioria dos pseudocomentadores e políticos de serviço com que a comunicação social e os partidos nos massacram – entre impreparados, incompetentes, ignorantes, interesseiros ou acumuladores –, atingiu por estes dias um ponto de raro clímax. Como os ditos são quase “mais do que as mães”, limito-me a uma ilustração a partir dos que me passaram pelo radar. Uma boa amostra de cromos para todos os gostos, incluindo designadamente eurodeputados e altos magistrados, jovens e reformados, professores e mais ou menos, papagaios e cristãos-novos.
Teria dificuldade em escolher a quem atribuir o prémio da tontice mais tonta de todas as tontices que registei. Mas, omitindo à cabeça os que dançam conforme a música (tipo Bento cavaquista, Sande europeísta ou Costa jornalista), os que falam do que não sabem (tipo Mendes fafense ou Cristóvão lousadense) e os que têm programas pessoais muito próprios (tipo Zé Gomes ou Marcos), nomeio cinco referências para mais tarde recordar. As quatro derrotadas, todas ao mesmo nível de superior elaboração intelectual e assim ex aequo nos lugares do pódio: o líder da Juventude Popular a proclamar a sua preferência por receber selfies com os seus amigos na praia do que selfies com jovens gregos junto a caixas multibanco; a classe do líder do PSD em Bruxelas a afirmar com fervoroso rigor argumentativo que “Varoufakis não é propriamente especialista em teoria dos jogos, é mais especialista em teoria das jogadas”; a pérola do líder europeu dos centristas a explicar “que o Syriza, logo depois de eleito, queria e assumiu e afirmou pagar a sua dívida indexada ao crescimento nominal da Grécia, o que equivalia a dizer aos credores ‘olhe, um dia, quando Deus quiser, se calhar daqui a muitas décadas, os credores receberão aquilo que emprestaram à Grécia’”; o presidente de alguns portugueses a sublinhar perentoriamente que “há muito tempo que pensava que as coisas iam correr mal”. E a tontice vencedora – eu que até nem queria voltar ao homem, mas ele que insiste tanto na asneira! –, também oriunda deste último e impagável presidente mas agora numa cabal demonstração do excelente estado da sua aritmética elementar...
Para registar e revisitar fica a terminar a questão ontem formulada por Ricardo Paes Mamede no “Prós & Contras”: “É possível a economia portuguesa crescer 2% ao ano sem haver reestruturação substancial da dívida e sem por em causa as metas orçamentais?” Ou, mais explicadinho ainda: “Eu neste momento preocupa-me clareza, que eu acho que é o que falta ao debate político em Portugal. Nós temos de ser claros. Há alguém que consiga olhar um português nos olhos, ou uma portuguesa, e dizer assim: ‘o nosso governo, o nosso partido’, pondo uma voz bem colocada, ‘durante os próximos quatro anos vamos dar bem-estar aos portugueses, vamos continuar a crescer, vamos ter um crescimento que nos vai permitir entrar numa senda de progresso. Não há dado nenhum objetivo que me diga isso. E portanto a pergunta que eu, enquanto cidadão, faço a qualquer pessoa que queira ser governo é: no próximo orçamento de Estado vão continuar a cortar na saúde, na educação e na proteção social para cumprir as metas orçamentais, sim ou não?”. Vamos discutir estas matérias de forma séria?