(A
palavra-chave é linkage)
A cantilena do pensamento económico único que vai percorrendo os corredores
de Bruxelas fala até à exaustão de reformas (mudanças) estruturais. Nunca o
tema foi tão banalizado, por ser tão martelado no casório que deu para o torto
entre austeridade e reformas estruturais. Hirschman que foi um economista que
dignificou o tema desde 1958 deve revolver-se no túmulo com esta captura do
termo estrutural, que não é mais do que a tentativa de colocar todas as
economias sob um determinado modelo comum de organização e de afetação de recursos,
com largo destaque para as mudanças no mercado de trabalho, mais propriamente liberalizá-lo
e flexibilizá-lo ao mesmo tempo que se reduzem as condições de proteção social
e de regulação do mesmo.
Por isso, quando alguém teima em recorrer ao velho instrumental que
Hirschman começou a utilizar sobretudo no seu Strategy
of Economic Development de 1958 este blogue deve louvar um dos
seus patronos e realçar que esse instrumental de análise continua vivo.
A palavra ou instrumento de análise-chave é linkage. Linkages (enlaces)
são as relações setoriais que qualquer setor de atividade tende a manter com
outros setores a montante (para trás ou backward
linkages) e a jusante (para a frente ou forward
linkages). O perfil de especialização das economias define-se pelo grau de
espessura desses enlaces. Há economias mais robustas que tendem a desenvolver
uma forte intensidade de relações intersectoriais no seu interior, apesar da
globalização, e outras (que têm o seu extremo nas chamadas economias de
enclave) podem ser representadas por matrizes input-outut que têm muitas células
com valor zero, significando que a relação entre aqueles dois setores da matriz
é nula.
Dominique Bartelme e Yuriy Gorodnichenko publicaram recentemente no VOX EU
um artigo, “Linkages and economic
development” onde procuram combinar a análise de linkages à la Hirschman
com um modelo neoclássico focado nas distorções dos mercados de fatores.
Do artigo interessa sobretudo realçar que os autores conseguem associar a
força dos linkages intersectoriais existentes nas economias com um conceito
designado de multiplicador médio do produto. Quanto mais intensos forem esses linkages mais elevado será elevado esse
multiplicador médio, calculado com base em análise matricial de tabelas
input-output das diferentes economias.
E o que é mais relevante é que os autores encontram uma relação
relativamente robusta entre o valor do multiplicador médio do produto e a
produtividade por trabalhador, neste caso medida pelo seu logaritmo. Ou seja,
independentemente das opções de especialização que a globalização abre às
economias, o que estas conclusões significam é que, apesar disso, quanto mais
intensas e menos distorcidas forem as relações intersetoriais, mais elevada é a
produtividade média.
O patrono ainda mexe.
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